Em busca de liberdade

Sanduíche aberto de matzá pode matar a fome do meio do dia no PessachEdu Cesar/Fotoarena

O primeiro-ministro Bibi Netanyahu viajou para os Estados Unidos de forma repentina. Segundo seu gabinete, ele irá conversar com Donald Trump sobre o novo tarifaço imposto a Israel (e a muitos outros países).

A sociedade israelense não comprou essa versão, e circula a notícia de que ele foi até lá para levar um puxão de orelha: como já havia declarado antes mesmo de sua posse, o presidente americano quer ver o fim da guerra entre Israel e Gaza.

Se ele quer, imagine os israelenses.

Comemoração e paradoxo

Na próxima sexta-feira à noite começa Pessach, festividade que dura oito dias  e comemora a libertação dos hebreus escravizados no Egito há cerca de três mil anos. A memória do judeu é fenomenal, como se vê. Talvez não o fosse caso dramas históricos desse gênero não ocorressem geração após geração — como acontece agora, com 59 reféns ainda aprisionados em Gaza desde 7 de outubro de 2023.

Esse fato reforça o paradoxo gritante de celebrar, nestes tempos, uma das festas mais importantes do judaísmo, que comemora o que tão cruelmente falta agora mesmo a muitos integrantes do povo judeu: a liberdade.

Alegria e restrição

Pessach é uma festa que desperta sentimentos ambíguos de alegria e de restrição, uma vez que impõe proibições alimentares que, além de afetarem a rotina das famílias, exigem uma faxina geral nas casas. Retira-se delas, por exemplo, todos os alimentos fermentados.

Judeus observantes têm uma tarefa mais árdua nesse período, uma vez que se empenham em separar até mesmo utensílios de cozinha para uso exclusivo durante a festa.

Já muitos judeus seculares veem nessa época uma oportunidade para limpar e arejar os armários, retirar ou substituir o que está desgastando em casa e abrir espaço para o novo — um tipo de limpeza energética. 

Na noite de sábado para domingo, famílias judaicas de todo o mundo se sentarão juntas para reler a Hagadá, livro que conta a história de Moisés e do faraó teimoso que, depois de impor ao seu povo o sofrimento causado pelas dez pragas, permite que os judeus abandonem o Egito (você também enxergou aqui um paralelo com os eventos atuais?).

Comerão a matsá, pão ázimo que relembra a massa que não teve tempo de fermentar em função da pressa em abandonar as cidades e seguir para a Terra Prometida — uma saga que duraria 40 anos. E comerão o maror, uma erva simbólica cujo amargor lembra a dureza da vida sob a escravidão. Mas também farão uma refeição farta, agradecendo a Deus não só pelo alimento, mas pela liberdade — esta que, no fim das contas, precisa ser reconhecida como uma bênção, e não uma garantia, como hoje o mundo inteiro pode testemunhar tão bem.

Que sejam dias de celebração e de luz, e que tragam boas novas, para os israelenses e para todo o mundo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG

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