No CRAD Timbó, homem castigado por ligar para a família cometeu suicídio

ALERTA DE GATILHO: esta reportagem contém relato de suicídio; recomenda-se cautela a leitores sensíveis.

🚨 AVISO: O texto a seguir foi escrito com o consentimento dos familiares da vítima, que terá a identidade preservada. Criamos um nome fictício para contar a história.

***

Em março de 2023, Carlos procurou voluntariamente o CRAD (Centro de Recuperação de Álcool e Drogas) para tratar a dependência química.

Após quase um ano internado, próximo de ter alta, ele passou a realizar serviços administrativos. Como tinha acesso ao telefone, fez uma ligação para familiares pedindo que sua filha fosse avisada de que ele sairia logo e gostaria que passassem o Natal juntos.

Por usar o telefone para ligar para a família, Carlos foi violentamente repreendido e avisado de que seu tratamento voltaria à estaca zero, o que significava passar quase mais um ano no local. Além disso, ficaria três meses sem poder conversar com familiares.

A ligação foi feita no dia 19 de novembro. No dia 20, Carlos ficou isolado. No dia 21 teve uma sessão com a psicóloga, com duração de uma hora.

Na madrugada do dia 21 para o 22, aos 42 anos, Carlos cometeu suicídio dentro do CRAD.

Segundo documentos aos quais o Misturebas News teve acesso, o socorro foi feito por dois internos (e não por alguém da administração), que levaram Carlos ao hospital, onde foi constatado o óbito.

A família recebeu a notícia por uma mensagem de áudio.

À polícia, o dono da comunidade terapêutica, Volnei Pereira, afirmou que foi alertado pela psicóloga de que Carlos poderia fugir. Em função disso, teria colocado um interno para vigiá-lo.

Para a família, o CRAD falhou no dever de cuidado que tinha com Carlos. Não foi vigilante, não prestou socorro e também não forneceu suporte aos parentes diante da perda.

A família pagou R$ 2,5 mil de inscrição e mais R$ 2 mil de mensalidade pela internação de Carlos.

Por que contar essa história?

O suicídio é um tema delicado.

A Organização Mundial de Saúde recomenda que não se fale muito sobre o assunto para não estimular a prática.

Nossa decisão em contar a história de Carlos – que passou pelo consentimento da família – se justifica para revelar o que de fato acontecia dentro do CRAD, que, atualmente, está proibido de receber novos internos.

Volnei Pereira, em entrevista à nossa equipe, assumiu apenas uma morte dentro da unidade, a de um senhor que passou mal. Disse ainda que um homem tentou cometer suicídio, mas foi impedido.

Busque ajuda

Se você tem pensamentos suicidas, saiba que não está sozinho. Estima-se que uma em cada cinco pessoas já teve um pensamento suicida alguma vez na vida.

Ter um pensamento desse tipo não é motivo de vergonha, mas serve como alerta de que é preciso buscar ajuda.

O CVV (Centro de Valorização da Vida) possui atendimento 24 horas, por telefone (disque 188, é de graça) ou chat através do site. Clique aqui para acessar.

Veja abaixo as outras matérias que publicamos sobre o CRAD:

CRAD TIMBÓ: dopados, agredidos e escravizados; veja relatos de ex-internos

Misturebas News entra no CRAD e ouve dono da comunidade terapêutica sobre denúncias

Ovos com larvas e remédios entregues pelo interno que limpava a fossa: mais denúncias no CRAD de Timbó

 

O post No CRAD Timbó, homem castigado por ligar para a família cometeu suicídio apareceu primeiro em Misturebas News.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.