Ex-CEO do Figueirense diz que ‘o clube tem dono’ e indica causa da demissão

Enrico Ambrogini foi demitido do cargo de CEO do Figueirense

Enrico Ambrogini em entrevista na redação do Grupo ND – Foto: Ian Sell/ND

A terça-feira do ex-CEO do Figueirense, Enrico Ambrogini, foi de entrevistas e para passar a limpo os quase 17 meses que esteve à frente do clube do Estreito. Demitido do cargo na noite de segunda-feira, junto com o técnico Thiago Carvalho em decisão do Conselho de Administração da SAF alvinegra.

Em entrevista ao portal ND Mais durante à tarde, Ambrogini chegou a encher os olhos de lágrimas ao falar da saída e do seu envolvimento no clube durante esse período.

Com respostas longas, detalhou alguns processos e acredita que teve o seu trabalho minado, além de confirmar que por duas vezes pediu para deixar o clube em 2024: em outubro e em dezembro, mas foi demovido da ideia por Paulo Prisco Paraíso, que ele conta ter sido o responsável pela sua saída, e por Eduardo Médicis, gestor do fundo Clave. A saída do clube se deu pela postura de Enrico, que era contrário à demissão do técnico Thiago Carvalho.

“No limite (a demissão do técnico) talvez tenha sido a grande fagulha para estourar. Quando falo em convicção é dos meus valores e do que acredito que pode fazer o clube se tornar grande. Desde quando fiz o diagnóstico nos 100 dias de clube, de onde tinha gente ganhando por outro lugar, não fazia sentido as decisões que a gente estava tomando. Nunca tive prova de nada e nem vou acusar ninguém, mas deixava dúvida. O pessoal foi me minando ao longo do tempo e a questão Thiago Carvalho talvez tenha sido o motivo que acharam para me mandarem embora. O Thiago me ligou e falou ‘Enrico, não vai embora por minha causa’, falei que não foi por ele. Tem coisas que eu não posso abrir mão se não eu mudo o Enrico, tenho que ter convicção”.

Reforçando por diversas vezes a palavra convicção, Enrico Ambrogini não escondeu a tristeza com o rompimento com o Figueirense:

“Eu não esperava, não queria. Abri mão de muita coisa  e infelizmente não consegui levar até o final do meu contrato que era de três anos. Apesar de ter sido praticamente obrigado a passar por cima de valores e coisas que acredito. Foi muita emoção junto, expliquei nos bastidores como a torcida me encantou, como a cidade me encantou, sair

Procurado pela reportagem, o Figueirense não se pronunciou sobre as questões de Ambrogini. O clube confirmou a contratação do técnico Pintado na noite de terça e Leonardo Rodrigues irá ocupar interinamente o cargo de CEO. A seguir, veja as respostas do ex-CEO alvinegro.

O Figueirense sobe?

“Hoje é uma grande incógnita se financeiramente o clube vai se sustentar. Se tudo se mantiver, eu posso fazer uma aposta que o Figueirense é candidato a subir”

O Figueirense é um clube complexo?

“Politicamente, sem dúvida nenhuma, hoje é um clube de dono apesar de todos acharem que é a Clave, mas não é. Mas administrativamente é um clube organizado, equilibrado, e tem tudo para virar a chave. Falei aos funcionários na saída para eles não desistirem, porque não é com a saída do Enrico que ele vai acabar. Acredito que o próximo que pegar a minha função não vai precisar se preocupar com CT, com ônibus, com irrigação, com alimentação porque está tudo organizado, é só dar sequência”.

Enrico Ambrogini, CEO da SAF do Figueira, em entrevista no clube – Foto: JP Bianchi/ND

Projeto do ano no futebol

“Eu tinha e tenho convicção. Como comparativo ano passado a gente fez 10 pontos em quatro jogos e não classificamos, o Remo fez zero pontos em quatro jogos subiu. Quando eu ia para o CT e o vestiário eu deixava não impactar tudo que acontecia ao redor, mas o campo é reflexo do que é fora e a gente estava desorganizado na parte política. Não tem jeito.

Maior acerto

Investir em estrutura e pagar dívida. O Figueirense é um clube de Série B, sem dúvida nenhuma. Honrei com todos os meus compromissos, o clube não deve a nenhum fornecedor, não tem salário atrasado e recuperei o nome do clube na praça”

Maior erro

“Não consegui dedicar tudo que eu acho que deveria ao futebol, digo tempo e recurso, mas o meu maior erro foi não ter lido a situação antes. Ter mantido a minha posição e não ter aberto mão de coisas que abri. O pessoal não está afim da mudança e de que o Figueirense vá para frente se não for pela mão deles”.

Tamanho da recuperação judicial

“O grande passo é a recuperação judicial, ela tem que acontecer para que o Figueirense siga. Na parte administrativa e financeira está equilibrado, mas o clube depende de aporte de recursos e o pessoal precisa conquistar a confiança da Clave como conquistei. Eles estão investindo dinheiro sem ter a contrapartida do que está no contrato e acredito que foi pela conquista de confiança. O Figueirense não é um clube são, que pode arrecadar R$ 15 milhões por ano e gastar R$ 24 milhões. Fora isso, o clube tem que ter uma folha de R$ 100 mil, é infactível. Espero que a Clave não desista”.

Enrico Ambrogini, CEO do Figueirense SAF – Foto: Leo Munhoz/ND

Mágoa no Figueirense

“Minha mágoa é não terem sido honestos comigo desde o começo. Se eles tivessem me entrevistado, essa pessoa que me demitiu, eu nunca teria vindo. Então talvez por isso que eles nunca tenham me entrevistado mesmo. Eu sabia que não era compatível com o modo de pensar, enfim. Então minha mágoa é essa, não terem jogado limpo comigo desde o começo. Ingerência política, conflito de ideias, isso vai acontecer em qualquer clube do Brasil. Tudo que eu honrei, tudo que eu combinei, eu honrei. E não foi do mesmo jeito comigo, então essa é a minha mágoa”.

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