Freira nascida no Amapá denuncia expulsão por machismo: ‘bonita demais para ser freira’

Da REDAÇÃO

A freira brasileira Aline Gachamachi, natural de Macapá, no Amapá, tornou-se o centro das atenções da imprensa italiana e de veículos internacionais após revelar ter sido afastada de sua posição de liderança por motivos que, segundo ela, envolvem preconceito e machismo dentro da estrutura da Igreja Católica. A história foi revelada em reportagem publicada pela Folha de S.Paulo e provocou debate sobre o papel das mulheres na Igreja.

Aline é filha de herdeiros do grupo Bento Pereira, fundado por Otaciano Bento Pereira, falecido em 2011. No Amapá, a família tem sociedade em concessionárias de automóveis e shopping.

Impulsionada pelo currículo de trabalho que incluia formação acadêmica e serviço como intérprete da igreja, aos 33 anos Aline fez história ao se tornar a madre abadessa mais jovem da Itália, comandando uma missão com 20 freiras em um mosteiro na região da Toscana. No mosteiro, inaugurou um serviço de atendimento a vítimas de violência e criou uma horta comunitária para pessoas com autismo.

Carismática, articulada e com propostas modernas para a vida religiosa, ela rapidamente ganhou notoriedade dentro e fora da comunidade católica. No entanto, sua aparência e postura despertaram reações negativas por parte de membros do clero mais conservador.

Foi de um frei que chefia o mosteiro que teria partido a frase que acabaria se tornando um símbolo da controvérsia: “Bonita demais para ser freira”, teria dito, segundo relatos reproduzidos pela própria religiosa. Para Aline, a afirmação resume o tipo de julgamento estético e machista que enfrentou durante sua trajetória.

Aline ao lado de outras freiras no mosteiro…

…onde atendia autistas e vítimas de violência. Fotos: Reprodução

A denúncia

A saída de Gachamachi do cargo aconteceu após uma carta anônima, enviada ao Vaticano, que a acusava de praticar assédio moral com outras freiras. Apesar de nunca ter tido acesso ao conteúdo completo da denúncia, ela afirma que as acusações são infundadas e que não teve direito à defesa. Sua expulsão, segundo ela, ocorreu de forma abrupta e sem diálogo.

O impacto de sua saída foi imediato: a maior parte das 20 freiras sob sua liderança deixou a missão. Desde então, Aline tem dividido seu tempo entre articulações para fundar uma nova frente missionária e os preparativos para recorrer oficialmente ao Vaticano em busca de justiça. Ela acredita que, com a escolha iminente de um novo papa, poderá haver mais abertura para discutir o papel da mulher na Igreja e rever situações de injustiça como a que diz ter vivido.

“É um sistema que não admite uma mulher jovem e determinada em uma posição de comando”, afirmou à Folha.

Ela também lembrou que a formação acadêmica do novo Papa pode facilitar que haja uma melhor compreensão sobre o caso, favorável suficiente à reverter sua situação. 

A reportagem revelou ainda que um benfeitor do mosteiro ofereceu a ela uma mansão para criar uma nova missão, nos mesmos moldes que conduzia no mosteiro. No entanto, Aline disse ainda não ter tido contato com as outras freiras que teriam abandonado o mosteiro após sua saída, e que a ajudariam a operar a nova frente.

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