Inflação dos EUA dá alívio, mas núcleo segue pressionado, dizem economistas

Inflação nos EUA acelera no 4º trimestre: PCE sobe 2,5%

O índice de preços ao consumidor CPI dos Estados Unidos subiu 0,2% em abril, segundo dados divulgados nesta terça-feira (13) pelo Departamento do Trabalho. A inflação acumulada em 12 meses foi de 2,3%, abaixo das projeções de analistas, que esperavam um avanço de 0,3% no mês e 2,4% no ano.

Apesar da leitura abaixo do esperado, o núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia — considerados itens mais voláteis — também subiu 0,2% no mês e alcançou 2,8% em 12 meses, sinalizando que a desaceleração não é tão firme quanto os mercados desejariam.

Núcleo de preços e energia seguem pressionando

A decomposição dos dados mostra que o índice de energia avançou 0,7% em abril, puxado principalmente pelo aumento de 0,8% na conta de eletricidade, que compensou a leve queda de 0,1% nos preços da gasolina.

Já os alimentos registraram queda de 0,1%, com a alimentação em casa recuando 0,4%, enquanto os preços de alimentação fora de casa subiram 0,4%, mostrando um comportamento misto do setor.

Em relação ao mês anterior, houve aceleração da inflação: em março, o CPI havia recuado 0,1%, e o núcleo avançado apenas 0,1%.

Fed acompanha de perto, mas prefere outro índice

Apesar de o CPI ser um importante indicador de inflação, o Federal Reserve utiliza como principal referência o PCE (Índice de Preços das Despesas de Consumo Pessoal) para decisões sobre política monetária. Ainda assim, o dado desta terça é visto como um sinal importante para o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC).

As medidas protecionistas adotadas pelo ex-presidente Donald Trump, como o aumento de tarifas sobre produtos chineses, continuam sendo uma preocupação para os dirigentes do Fed, pois podem gerar pressões inflacionárias no médio prazo.

Opinião: inflação reforça processo de desaceleração gradual

Para Isadora Junqueira, economista da AZ Quest, o resultado do CPI de abril reforça a percepção de que a economia americana está em um processo de desaceleração gradual, ainda que o núcleo da inflação permaneça pressionado. Ela explica que tanto o número cheio quanto o núcleo vieram abaixo das expectativas — o CPI total subiu 0,22% (contra expectativa de 0,3%) e o núcleo avançou 0,24% (também abaixo da projeção de 0,3%). Na composição do índice, a principal surpresa de baixa veio da inflação de bens, que, apesar de ter acelerado frente a março (de -0,09% para +0,06%), ainda veio abaixo do esperado. Itens como vestuário e veículos novos ajudaram a conter a pressão inflacionária nesse grupo.

Do lado dos serviços, o comportamento foi mais previsível, mas com destaque para a resiliência da inflação de moradias, sobretudo nos aluguéis, que seguem elevados e contribuem para a lentidão na desaceleração desse segmento. Isadora observa que, embora a energia tenha registrado leve alta e os alimentos tenham mostrado deflação pela primeira vez em meses, o alívio no índice cheio foi puxado pela composição de bens — e não tanto pelos itens voláteis.

Quanto às leituras anuais, o índice cheio acumula alta de 2,3% em 12 meses, ainda ligeiramente acima da meta de 2% do Federal Reserve, enquanto o núcleo segue estável em 2,8%, o que mostra que a inflação subjacente ainda exige atenção. Para ela, o dado de abril é positivo e consistente com um cenário em que o Fed poderá ter mais flexibilidade para agir ao longo do ano, mas decisões futuras dependerão fortemente dos próximos indicadores do mercado de trabalho, dado o peso que o banco central dá ao equilíbrio entre inflação e emprego. “Foi um dado que indica que a inflação está cedendo, mas que exige monitoramento contínuo. O Fed pode ter mais espaço, mas ainda sem pressa”, conclui.

Opinião: leitura abaixo do esperado

Para o estrategista Gustavo Cruz, da RB Investimentos, a leitura abaixo do esperado da inflação de abril reforça o cenário para possíveis cortes de juros nos Estados Unidos ainda este ano. “Com o núcleo da inflação caminhando para perto da meta de 2%, o Fed ganha argumentos para afrouxar a política monetária”, avalia. No entanto, ele destaca que a inflação de moradia continua como o principal obstáculo, tendo subido 0,3% no mês e acumulado 4% em 12 meses — responsável por mais da metade da alta do índice cheio em abril.

Cruz ainda chama atenção para a queda nos preços de alimentos e energia, mas ressalta que os efeitos das tarifas implementadas recentemente pelo governo Trump seguem como fator de incerteza importante. “A dúvida sobre o impacto dessas medidas pode adiar decisões do Fed, especialmente diante de um ambiente político volátil”, conclui.

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