Cresce o abuso infantil em SC e com ele o sofrimento silencioso das vítimas

No Brasil, o abuso sexual contra crianças e adolescentes continua a crescer em ritmo preocupante, especialmente dentro dos próprios lares. No dia 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, os dados revelam uma realidade alarmante: a infância segue ameaçada em espaços que deveriam ser de proteção.

Após a pandemia, os registros de violência física, sexual, psicológica e negligência voltaram a aumentar significativamente. Em 2021, o país contabilizou quase 70 mil casos. No ano seguinte, esse número avançou 21%, alcançando 84.707. Já em 2023, o salto foi ainda maior, chegando a 115.384 ocorrências – um aumento de 36,2%.

Segundo divulgado pela ND+, as estatísticas apontam que crianças de até quatro anos representaram 35.396 vítimas, um crescimento de 32,7% em relação ao ano anterior. A faixa etária entre cinco e 14 anos concentrou 53.951 casos, alta de 40,5%. Entre os adolescentes de 15 a 19 anos, foram 26.037 registros – um acréscimo de 32,6%.

Em Santa Catarina, os números também preocupam. Só no ano passado, foram notificados 1.853 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, de acordo com a Diretoria de Vigilância Epidemiológica. A maioria das vítimas era do sexo feminino (88,3%) e, em dois terços dos casos, o agressor estava dentro da própria casa.

Especialistas apontam que os impactos da violência sexual vão além das marcas físicas. Muitas vítimas desenvolvem transtornos emocionais graves, como depressão e ansiedade, agravados pela ausência de apoio psicológico e pelo peso do estigma social. Um dos efeitos mais dolorosos dessa realidade é o aumento dos suicídios entre jovens. Entre 2013 e 2023, houve um crescimento de 42,7% nos casos registrados entre crianças e adolescentes de 10 a 19 anos, totalizando 11.494 mortes nesse período.

Ainda segundo a ND+, o promotor de Justiça Mateus Minuzzi Freire da Fontoura Gomes, do Ministério Público de Santa Catarina, considera esses números uma prova do fracasso coletivo em garantir o cuidado essencial às novas gerações.

À frente do Centro de Apoio Operacional da Infância, Juventude e Educação do MPSC, ele relata transformações profundas quando uma criança é afastada de situações de abuso. Segundo ele, é visível a mudança no comportamento das vítimas após a intervenção: a espontaneidade volta, a fala se torna mais solta e o sorriso retorna.

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Gomes reforça que a denúncia é o ponto de partida para quebrar o ciclo de violência, especialmente porque, na maioria dos casos, o agressor é alguém próximo à vítima e age no sigilo do ambiente doméstico. Em contextos onde o silêncio predomina, cabe à Justiça atuar para garantir que a criança ou o adolescente seja protegido.

Campanhas como o Maio Laranja desempenham papel essencial ao dar visibilidade ao problema e orientar a população sobre como agir em casos de suspeita. Atitudes simples, segundo o promotor, podem representar a chance de libertar uma vítima.

As denúncias podem ser feitas de forma anônima pelo Disque 100, ao Conselho Tutelar ou diretamente ao Ministério Público. A proteção da infância é uma responsabilidade coletiva — e começa com a decisão de não se calar diante da violência.

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