De luto por Bira Presidente, Cacique de Ramos recebe componentes, moradores do bairro e admiradores do músico


A direção do bloco cancelou o tradicional Samba com Feijoada, mas manteve uma roda tributo acústica em homenagem ao fundador. Quadra do Cacique de Ramos faz samba em homenagem a Bira Presidente
Betinho Casas Novas/TV Globo
Moradores de Ramos, admiradores do Cacique de Ramos e componentes do bloco estiveram na quadra do bloco em Olaria, na Zona Norte do Rio, para homenagear Bira Presidente. Fundador da agremiação e do grupo Fundo de Quintal, Ubirajara Félix do Nascimento morreu na madrugada deste domingo (15), aos 88 anos.
A direção do bloco cancelou o tradicional Samba com Feijoada, mas manteve uma roda tributo acústica em homenagem ao fundador.
“O bairro está nesse momento muito triste, as ruas estão vazias. O Bira era um ícone da gente, principalmente para mim, que fui criado aqui. Eu estudava aqui do lado e ficava brincando aqui dentro. Eu vi tudo acontecer, o nascimento do Fundo de Quintal, os artistas que começaram a fazer sucesso aqui dentro. O Bira construiu esse legado, nós temos agradecer a ele”, diz o estivador Francisco Coutinho, de 61 anos, que foi ao Cacique buscar informações sobre o horário do velório do sambista e acabou ficando no evento.
Integrantes do Cacique não disfarçavam a tristeza, mas manifestavam também a disposição de levar o legado de Bira adiante.
“Nós perdemos o nosso cacique maior, a nossa maior referência. Um ser humano que mudou tudo, mudou a vida de várias pessoas, inclusive a minha. A contribuição dele é imensurável. A contribuição dele para nossa cultura, para a cultura negra, para a cultura do samba, haja vista que nós temos esse palácio que é o Cacique de Ramos”, disse Chula, mestre de bateria do Cacique de Ramos.
“É uma dor imensurável, não caiu a ficha, nós não estávamos preparados para isso. Mas ao mesmo tempo, vamos levar o legado dele a frente, ele sempre falava conosco essa questão de levar alegria para as pessoas, as pessoas têm essa necessidade de serem felizes e somos produtores de felicidade”, acrescentou.
Velório será nesta segunda
Bira Presidente, fundador do Cacique de Ramos e do Fundo de Quintal, morreu aos 88 anos na noite de sábado (14), no Rio de Janeiro. Ele estava em tratamento de um câncer de próstata e tinha Alzheimer.
Além de fundar o Cacique, um dos blocos de carnaval e centro cultural mais importantes do Rio, Bira, que era percussionista, cantor e compositor, ajudou a transformar as rodas de samba do subúrbio carioca em um movimento musical que revolucionou o samba tradicional.
O velório do Bira Presidente está marcado para segunda-feira (16), no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste, das 14h às 16:30.
Perfil
Ubirajara Félix do Nascimento nasceu no dia 23 de março de 1937, no Rio de Janeiro, e em sua carreira ficou marcado como uma das grandes personalidades do samba no Brasil.
Filho de Domingos Félix do Nascimento e Conceição de Souza Nascimento, Bira cresceu no bairro de Ramos, na Zona Norte do Rio. Desde cedo, foi envolvido pelo universo do samba e do choro, frequentando rodas com figuras lendárias como Pixinguinha, João da Baiana e Donga.
Sua mãe, Conceição de Souza Nascimento, era mãe de santo da Umbanda e também influenciou a espiritualidade e a musicalidade das festas familiares, que misturavam rituais e samba.
Aos sete anos, teve seu “batismo no samba” na Estação Primeira de Mangueira, escola que sempre considerou sua de coração.
Em 20 de janeiro de 1961, Bira fundou, junto com amigos e familiares, o Grêmio Recreativo Cacique de Ramos, bloco carnavalesco que se tornaria um dos maiores centros culturais do samba no Brasil.
O Cacique nasceu da fusão de pequenos blocos do bairro de Ramos e rapidamente se destacou pelas rodas de samba que promovia em sua sede, apelidada de “Doce Refúgio”.
Com desfiles no próprio bairro de Ramos e no Centro do Rio de Janeiro, o grupo, que incluía Bira e seu irmão Ubirany, se tornou um dos blocos de carnaval mais importantes da cidade.
Bira foi o primeiro e único presidente da agremiação até sua morte, sendo conhecido como “o próprio Cacique”.
No final dos anos 1970, das rodas do Cacique de Ramos surgiu o grupo Fundo de Quintal, com Bira como um dos fundadores. O grupo inovou ao incorporar instrumentos como tantã, repique de mão e banjo, criando uma nova sonoridade que revolucionou o samba de raiz.
Entre os sucessos do Fundo de Quintal com Bira estão:
“O Show Tem Que Continuar”
“A Amizade”
“Do Fundo do Nosso Quintal”
“Lucidez”
“Nosso Grito”
Bira era conhecido por seu carisma, seu pandeiro inconfundível e sua presença marcante nos palcos e nas rodas de samba. Um dos momentos marcantes de suas apresentações era quando Bira dançava o “miudinho”, com elegância peculiar.
Quadra do Cacique de Ramos de luto pela morte de Bira Presidente
Betinho Casas Novas/TV Globo
Bira Presidente, fundador do Fundo de Quintal
Fábio Rocha/Globo
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