Economista alerta que tarifaços aceleram desglobalização e fragmentam comércio mundial

As novas tarifas comerciais anunciadas pelos Estados Unidos reacenderam as debates sobre a estabilidade do comércio global e uma possível desglobalização. Em meio a um cenário já pressionado pela desaceleração da China, pelas tensões geopolíticas e pelas cicatrizes deixadas pela pandemia, as medidas impulsionadas pelo governo norte-americano colocam ainda mais lenha na fogueira do protecionismo.

Para o economista e doutor em Relações Internacionais, Igor Lucena, as consequências são diretas e preocupantes. Essas tarifas são muito negativas para a economia mundial. Elas geram uma instabilidade que torna quase impossível para as empresas preverem preços, investimentos ou até mesmo suas cadeias de produção“, avalia o especialista.

Segundo Lucena, o impacto no comércio global tende a ser um recuo expressivo da atividade, agravado pela elevação de custos que as tarifas provocam em diferentes setores. “Estamos diante de um cenário de desglobalização claro. O ponto central é que a confiança dos agentes econômicos fica extremamente abalada“, alerta.

Desglobalização: uma tendência que se acelera

Na visão do economista, o movimento de desglobalização, que já vinha ganhando força desde os choques provocados pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, agora recebe um novo impulso com as políticas tarifárias dos EUA. “A tendência de desglobalização é clara, mas a intensidade ainda é incerta. Não se trata de uma ruptura total, mas de um realinhamento importante“, diz Lucena.

Ele pontua que, enquanto os Estados Unidos se fecham e adotam medidas cada vez mais protecionistas, outras regiões do mundo intensificam suas integrações econômicas. “A União Europeia mantém uma integração forte, assim como a América Latina, com o Mercosul e outros acordos regionais. Enquanto isso, os Estados Unidos tentam retomar uma política de substituição de importações, algo que já vimos no Brasil nos anos 1970 — e que sabemos que não funciona“, compara.

O especialista faz uma analogia com o que ocorreu na década de 1980, quando o Japão enfrentou uma desaceleração econômica semelhante à que a China vive atualmente. “A China está passando por um desaquecimento interno, que somado ao fechamento dos EUA cria uma tempestade perfeita para o recuo do comércio mundial, observa.

Desglobalização em vista?

Um dos desdobramentos mais imediatos da escalada tarifária é a reconfiguração das cadeias globais de valor, que tendem a migrar para formatos mais regionalizados. Lucena explica que, diante da incerteza gerada pelas novas tarifas, países que não estão no alvo das medidas protecionistas podem se tornar alternativas atraentes para as empresas exportadoras.

Brasil, Reino Unido e Austrália são exemplos de países que podem se beneficiar ao atrair empresas interessadas em exportar para os Estados Unidos com tarifas menores“, afirma.

Paralelamente, antigos rivais geopolíticos começam a ensaiar movimentos de aproximação para mitigar os efeitos negativos das tarifas norte-americanas. “China, Japão e Coreia do Sul, que historicamente são inimigos, agora trabalham para formar respostas conjuntas e fechar novos acordos comerciais entre si. Isso demonstra como as redes de valor globais estão se fragmentando e dando espaço para cadeias regionais mais resilientes“, destaca.

Lucena reforça que essa transformação não é apenas uma resposta tática, mas uma necessidade estratégica diante do enfraquecimento das alianças tradicionais com os Estados Unidos. “Os parceiros comerciais dos EUA estão perdendo a confiança no país e procurando criar suas próprias alternativas para manter a estabilidade econômica.

Isolamento americano e a erosão da confiança global

Um ponto crucial da análise de Igor Lucena é o risco crescente de isolamento dos Estados Unidos no cenário econômico internacional. Para o especialista, a adoção de políticas tarifárias agressivas, embora busque proteger a indústria local, tem o efeito colateral de enfraquecer a credibilidade do país como parceiro comercial confiável.

A confiança no ambiente de negócios norte-americano está sendo corroída. Com medidas assim, as principais parcerias comerciais buscam novas rotas e alternativas. E isso enfraquece a posição dos Estados Unidos no comércio global“, alerta.

Ele observa que, embora o protecionismo possa trazer ganhos de curto prazo para setores específicos da economia americana, no médio e longo prazo o resultado tende a ser contraproducente. “O risco é que, ao tentar proteger a economia doméstica, os Estados Unidos acabem se isolando de mercados fundamentais, comprometendo sua própria competitividade.

Perspectivas para o comércio mundial

O diagnóstico final de Igor Lucena é contundente: o comércio mundial deve perder fôlego nos próximos anos. Segundo ele, o duplo movimento de desaceleração chinesa e fechamento dos Estados Unidos cria um ambiente de retração para o comércio internacional, que deve se refletir em volumes menores e cadeias de valor mais localizadas.

Para o economista, o futuro próximo exigirá das empresas e governos uma revisão profunda de estratégias. “Será fundamental repensar cadeias produtivas, diversificar parcerias comerciais e se preparar para um ambiente global mais competitivo e menos previsível“, conclui.

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