Dólar, inflação e juros: os nós da economia brasileira

Dólar dispara a R$ 6,15 com temores fiscais e leilão do BC

A recente valorização do dólar frente ao real tem sido impulsionada por um conjunto de fatores internacionais e domésticos, segundo análise do economista Hugo Garbe, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). A retomada de uma política protecionista por parte do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aliada à desaceleração da economia global, está entre os principais vetores que explicam a pressão sobre o câmbio.

Donald Trump reintroduziu tarifas sobre importações de países como China, México e União Europeia, além de algumas medidas que afetam o Brasil. “Esse movimento faz com que investidores busquem ativos considerados mais seguros, como o dólar e os títulos do Tesouro americano, provocando fuga de capitais de países emergentes”, explica Garbe.

Dólar alto e o impactos no Brasil

Com a saída de recursos, o real perde valor, elevando o custo das importações e pressionando preços internos. “Combustíveis, fertilizantes, medicamentos, produtos eletrônicos e insumos industriais tendem a encarecer, resultando em inflação de custos”, diz o economista. Esse tipo de inflação, segundo ele, impacta diretamente o poder de compra das famílias e cria obstáculos para a redução da taxa básica de juros.

Nesse ambiente, o Banco Central enfrenta um dilema: manter os juros elevados para controlar a inflação ou retomar os cortes da Selic para estimular a atividade econômica. “A tendência é que o processo de flexibilização monetária seja postergado até que haja maior estabilidade cambial e menor pressão inflacionária”, afirma Garbe.

Exportações podem se beneficiar com o dólar

A desvalorização cambial pode favorecer setores exportadores como agronegócio, mineração e papel e celulose. No entanto, o efeito positivo depende da demanda externa, que pode ser limitada pela desaceleração da economia global. “Se os principais mercados consumidores também estiverem em retração, o ganho de competitividade cambial não se traduz automaticamente em maior volume exportado”, pondera o professor.

Instabilidade interna amplia a percepção de risco

Fatores domésticos também contribuem para a pressão sobre o câmbio. “Incertezas fiscais, instabilidade institucional e dúvidas sobre a condução da política monetária elevam a percepção de risco e afetam negativamente o fluxo de investimentos estrangeiros”, observa Garbe.

Além do impacto macroeconômico, o encarecimento do dólar chega ao dia a dia da população. Transporte, alimentação, energia e educação sentem os efeitos da variação cambial, especialmente para famílias endividadas ou com renda comprometida.

Respostas precisam vir dos fundamentos econômicos

Para enfrentar esse novo cenário global, o Brasil precisa reforçar sua credibilidade econômica. “A valorização do dólar reflete, em parte, como o país é percebido em relação à sua capacidade de lidar com choques externos. A responsabilidade fiscal, previsibilidade nas decisões econômicas e estabilidade institucional são fundamentais para reduzir a vulnerabilidade cambial”, conclui o economista.

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