Jornalista alagoano lança ‘A Noite que Vive no Rei’, romance que desafia a percepção do tempo e os limites entre bem e mal


Victor Melo mergulha nas águas do inconsciente de Ramon Capital e extrai do empoderamento da princesa Jordana a força do feminino, enquanto transita pelo humor ácido e cortante do bobo Torbilet. Victor Melo lança ‘A Noite que Vive no Rei’
Vivi Leão/g1
“Bem e mal. Luz e sombra. Vida e morte. Ciência e superstição”. A sintonia com a dualidade e a busca pela integração dos opostos estão presentes na obra do jornalista alagoano Victor Melo, que lança nesta terça-feira (22) o seu primeiro romance, “A Noite que Vive no Rei”.
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O livro, escrito ao longo dos últimos 16 anos, é um mergulho profundo em um mundo de mistérios, onde o misticismo dialoga com a ciência. A obra é uma mescla de fantasia sombria com o realismo fantástico e traz dilemas filosóficos e estratégias políticas. O lançamento será no Restaurante Villa Farol, às 19h.
Para compor as personagens do livro, Victor buscou referências na filosofia, na psicanálise e até no teatro. Na obra, é possível enxergar o método psicanalítico de Freud, a liberdade metafórica de Nietzsche e o humor ácido de Ariano Suassuna.
“Nesses 16 anos fiz uma imersão na filosofia, trabalhei, li muito sobre o determinismo do Tolstoi. O existencialismo de Sartre, de Simone de Beauvoir, o absurdo de Camus. Fiz imersão na filosofia, na psicologia… tem muito de Freud também, já que o conflito, o primeiro conflito está dentro da gente, entre o consciente e o inconsciente”.
Livro “A Noite que Vive no Rei” de Victor Melo
Vivi Leão/g1
Em “A Noite que Vive no Rei”, as personagens ganham vida própria. O livro conta a jornada de luta interna travada por Ramon Capitão, que abre mão dos seus sentimentos em troca de poder. O pacto feito com o Espectro de Flamas instiga o leitor.
“Isso entra no personagem principal, o Ramon Capitão, e de forma oposta da Jordana, que também é a personagem principal. Um é um espelho do outro, só que é o avesso. E há uma complexidade nisso aí, precisei mergulhar profundamente na água da literatura para ter uma base sólida”.
O protagonismo feminino é presença pulsante no livro. A visão libertária de mundo da princesa Jordana cativa e inspira. Ela também é peça-chave na trama, que se dá em 514 páginas.
“O livro começa no universo extremamente masculino e termina no universo feminino. A Jordana é a liberdade, ela é contestadora e faz parte dos personagens de ruptura do livro. O que o Ramon faz, a Jordana desfaz. É o encontro da água fria com a água quente. As mulheres terminam se sobrepondo, então começa do lado masculino e vai para o lado feminino. As mulheres vencem a guerra”.
⏳Além do bem e do mal e o tempo não linear
“A Noite que Vive no Rei” traz elementos psicanalíticos onde o mal não é percebido como o oposto antagônico dualista do bem. Isso fica aparente nas diferentes camadas de sentimentos e atitudes dos personagens, que transitam entre luz e sombra.
“O Nietzsche costumava dizer que o amor está acima do bem e do mal. O bem e o mal são conceitos morais. De repente, de acordo com a cultura, uma determinada situação está do lado do bem e a outra do lado do mal, mas você muda isso com o tempo. E o Ramon ele não é bom nem ruim, ele não é vilão nem é o herói. Ele está no fio que entrelaça o bem e o mal, a sombra e a luz, o amor e a dúvida, o caos, a superstição, o realismo e a fantasia. Eu quis trabalhar muito isso, o sentimento do amor realmente é o fio que conduz o livro, assim como o riso”.
A obra é também um salto quântico na ideia do tempo tal qual o conhecemos. Nele, o tempo não é uma variável contínua e o passado, presente e futuro coexistem na multidimensionalidade.
“Eu fui buscar em um bruxo chamado Einstein essa história para mexer com o tempo. Meu objetivo era que o presente, o nosso presente hoje, o futuro e o passado se juntassem em determinado momento. Eu tive ajuda do Einstein na física e o livro começa com o ‘Big Bang’. Fui buscar também na literatura a ajuda do Jorge Luis Borges, poeta argentino, que trabalhava muito bem esses espelhos infinitos e buscava mundos fantásticos”.
“Em determinado momento, você acha que o livro se passa em uma era medieval. Do nada, um bobo canta uma música e você toma um choque. Mas o tempo não era outro? Como é esse tempo agora? E o tempo hoje, o presente que a gente está vivendo? Os conflitos no mundo podem influenciar nessa história?”.
“Eu deixo portas abertas. A filosofia não dá uma resposta clara sobre os dilemas da humanidade, sobre questões universais. Ela dá um caminho, mas deixa as portas abertas e o livro termina assim. É um diálogo com o leitor, o leitor me ajuda a escrever essa história. Então, não tem nada fechado, não tem nada definitivo, mas acredito que a principal mensagem é que as pessoas precisam buscar orientação dentro de si, sabendo que a gente tem forças antagônicas e que precisa trabalhar com essas forças para encarar a vida”.
🌌A inspiração que vem do silêncio da madrugada
Victor Melo lança livro “A Noite que Vive no Rei”
Vivi Leão/g1
Victor Melo conta que o livro foi escrito em diferentes fases de sua vida. Ao longo das últimas décadas, ele viveu explosões inventivas e momentos de imersão completa, mas também passou pelo noite escura da alma, onde teve que travar guerras internas e vencer um limbo criativo.
“Eu trabalhei 90% desse livro de madrugada e fazia disputas, guerras contra fantasmas, contra espectros de fogo, demônios, salamandras para tirar o que eu pudesse dessa relação com o metafísico e com o físico. Então, tinha um horário específico, na madrugada a casa fica mais silenciosa, e no silêncio a gente ouve os nossos barulhos e aí fica mais fácil para quem escreve. A inspiração é melhor no silêncio”.
E foi no cotidiano que ele buscou força para compor os “atos” do seu livro. A música, o cinema, o regionalismo serviram como âncora, trazendo de volta a inspiração.
“A minha forma de aprendizado é um pouco diferente. Eu quero entender um pouco sobre Freud, então eu começo a ler o máximo sobre Freud para entender o ego, o superego, o lado da psicologia, da psicanálise. A mesma coisa com Nietzsche, com Bárbara Heliodora, que foi a principal crítica de teatro do Brasil e era especialista em Shakespeare. O Shakespeare tem um papel muito importante no livro, o Hamlet, Ricardo II, que trata do poder, da luta pelo poder em reinos”.
“Também tem muita influência do Guimarães Rosa no meu livro. Eu fiz viagens a Cordisburgo, terra do Guimarães, para entender um pouco da linguagem do Grande Sertão Veredas. Acho que quando a gente escreve literatura contemporânea tem que reverenciar os clássicos e essas imersões ajudam muito nessa composição”.
Finalizado “A Noite que Vive no Rei”, outros projetos apontam no horizonte e trazem o estímulo de novas criações para o autor alagoano.
“Estou trabalhando em outro romance, é um projeto ligado a Alagoas. Nele, criei uma cidade fictícia, ‘Portas do Paraíso’, que é o pano para o livro ‘Desague’. É uma homenagem que faço a Alagoas, aos nossos personagens, à nossa fala. Nesse livro também trabalho com o lado metafísico, que faz parte da minha obra”.
Livro “A Noite que Vive no Rei” de Victor Melo
Vivi Leão/g1
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