As prioridades do Exército precisam ser claras

Programas ambiciosos, alguns definidos há mais de uma década, formam o que o hoje são chamados Projetos Estratégicos do Exército e precisam ser reavaliados em novo contexto.

Fiel Observador
DefesaNet

O Exército Brasileiro é a maior das três Forças e está presente em todos os rincões do território nacional.

O Exército começou um sério trabalho de modernização há cerca de 15 anos criando inclusive o Escritório de Projetos do Exército (EPEx e perdendo com dois projetos principais que consomem parte significativa do orçamento e que precisam ser reavaliados tantos no seu escopo como atender as capacidades militares esperadas: um é a Viatura Blindada de Transporte de Tropas – Média sobre Rodas VBTP-SR 6×6 Guarani e outro é o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON).

SISFRON

Começando pelo SISFRON, este projeto mostrou-se sem sentido estratégico e operacional e só resultou na montagem de torres de vigilância na fronteira oeste e na aquisição de rádios Harris e Motorola dos EUA. O SISFRON foi considerado como Linha Maginot Tecnológica dada alguns conceitos e a estrutura de Comando e Controle (C2) deficiente que o tornam com uma utilidade tática, estratégica e de inteligência discutível e virou um projeto custoso com resultados mínimos (elefante branco).

Foram bilhões de reais investidos em tecnologias para monitoramento de fronteira que não trouxeram um legado consistente e que hoje estão obsoletas e sem manutenção. O problema não são as tecnologias, o problema foi a finalidade e concepção do projeto.

A segurança de fronteiras requer integração e operação interagencias, presença continua para uma dissuasão eficaz. E para isso se necessita inteligência, comando, comunicação e controle (C3I) e meios atuadores capazes de intervir e fazer frente as ameaças, as neutralizando ou destruindo.

O SISFRON virou uma solução paliativa, e se faz urgente reformulá-lo através do investimento em meios móveis, a razão de ser da Força Terrestre, e depois seguir para a implementação conceito muito empregado na guerra moderna, que é a Inteligência, Vigilância, Reconhecimento e Aquisição de Alvos, a fusão de tudo isso deve estar a disposição dos decisores nos diferentes escalões de comando, e compartilhado com outras agências quando for necessário.

A 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada (4ª Bda C Mec), Comando Militar do Oeste (CMO), foi mobiliada com para ser a unidade operante do primeiro trecho do SISFRON.

As Armas Base

O Exército precisa priorizar o investimento nas Armas Base, que são a Artilharia, Cavalaria e Infantaria. A Artilharia hoje parada no tempo e impossibilitada de comprar seu tão sonhado e necessário obuseiro autopropulsado, por interferência política; a infantaria, cada vez mais obsoleta, que carece de metralhadoras pesadas, morteiros e precisa urgentemente adquirir um veículo de combate de infantaria sobre lagarta (IFV); e a Cavalaria, que recém começou a incorporar o Centauro 2, mas indecisa com a modernização do Cascavel, e a necessidade urgente de uma nova família de veículos de combate sobre lagarta, e claro, o Guarani, quem ninguém mais sabe se pertence a Cavalaria ou a Infantaria.

O Centauro 2BR foi a escolha mais acertada feita pelo EB em anos, elevando a Força Terrestre ao nível dos exércitos mais poderosos do mundo. O Centauro é um moderno carro de combate caça-tanques sobre rodas graças a sua torre Hitfact 2, com canhão de alma lisa de 120mm.

O veículo vai renascer aquela que foi uma das mais importantes criações do EB, a Brigada de Cavalaria Mecanizada. Essa tropa blindada leve e de alta mobilidade é peça fundamental de qualquer operação militar defensiva ou ofensiva no teatro de operações sul-americano, e serviu de exemplo para outros países realizarem manobras táticas e conquistarem objetivos militares contra adversários muito mais poderosos e bem equipados, recentemente, em solo europeu.

O Trinômio Centauro 2, Guarani e LMV, acompanhado por obuseiros sobre rodas, vai transformar nossas Brigadas de Cavalaria Mecanizadas nas unidades de pronto emprego de valor estratégico mais poderosas do subcontinente.

Arte do Escritório de Projetos Estratégicos do Exército Brasileiro

Guarani

E o Guarani?

Trata-se de uma excelente plataforma blindada de transporte de tropas, mas carece de uma torre para autodefesa e capaz de engajar alvos de dentro do veículo, como várias viaturas de combate de infantaria sobre rodas possuem.

O Guarani IFV ainda não se desenvolveu. Uma solução menos complexa com uma torre elétrica tripulada seria a solução para isso. O grande dilema que o Exército tem atualmente é a mecanização da infantaria, O que parecia ser uma solução tornou-se um problema.

Não há mais necessidade e espaço nos batalhões para receber tantos veículos Guarani. Em unidades de infantaria há blindados novos, garagens, oficinas, novos pátios e tanques de óleo, mas não tem mais espaço, não tem fuzil, metralhadoras, morteiros, munições e drones.

Um exército não é feito somente de veículos blindados de transporte de tropas, existem muitas outras necessidades. E para piorar, todos os anos há sobra no orçamento ou descontingenciamento e estamos adiantando o pagamento de 60 viaturas Guarani do ano seguinte, como se não houvesse mais necessidade de outros equipamentos e capacidades, como se não faltasse munição, drones ou metralhadoras. Melhor seria investir esses quase 500 milhões de reais extra-orçamentários em mais Viatura Blindada de Combate de Cavalaria (VBC Cav) Centauro 2, em obuseiros sobre rodas ATMOS, em peças de artilharia e morteiros, ou iniciar, mesmo que em baixa cadência de produção e incorporação, a tão necessária Força Tarefa Blindada, a nova família de blindados de combate sobre lagarta.

VBTP-MR Guarani de unidades de infantaria desfilando em Brasília no Dia do Exército Foto CComSEx

O Exército é grande, e suas responsabilidades e o território a ser defendido são ainda maiores. Precisamos priorizar as capacidades militares, aquilo que vai definir o combate, qualquer outro projeto torna-se despesa e desperdício de orçamento.

Precisamos urgentemente estabelecer um plano de logística para obter peças para manutenir os Leopard 1 (A3 e A5BR) e os M60A3TTS (Tank Thermal Sight).. Operação prevista talvez até 2035. Na recente LAAD contatos com a britânica Rolls-Royce assumiu a alemã MTU para produção de motores diesel terrestres e navais. Para manter a honra alemã a empresa é chamada RR MTU Munique. Assim como a empresa alemã ZF garante peças para as transmissões e redutores. Porém o custo operacional aumentou significativamente e tende a subir. em especial com as carências de tubos e munições e obsolescência de equipamentos eletrônicos.

Necessitamos urgentemente iniciar com um parceiro estrangeiro de confiança – e que não nos imponha restrições e embargos tecnológicos e políticos, o processo de aquisição de um blindado sobre lagarta no conceito família, na versão carro de combate com torre de 120mm e também de combate de infantaria com torre de 30mm. Se faz necessário aumentar a velocidade de incorporação dos Centauro 2 para mobiliar as Brigadas de Cavalaria Mecanizada, reavaliar a necessidade de modernização do Cascavel e a prioridade de incorporação de mais Guarani em especial o urgente avanço no desenvolvimento das versões planejadas, mas com um atraso significativo injustificável.

Apresentados em destaque ao fim do desfile as viaturas Chivunk equipada com o míssil SIATT MAX 1.2 AC a VBC Cav Centauro 2 BR e o lançador de foguetes ASTROS 2. Os dois primeiros em quantidade mínima e ASTROS 2 com séria disponibilidade de munição.

É necessário investir em drones de ataque, iniciar o desenvolvimento e produção nacional de metralhadoras e fuzis, adquirir munição para os meios existentes, inclusive resolver o problema da produção de munição do ASTROS já que a AVIBRAS está com a produção paralisada há quase dois anos e meio.

O Exército Brasileiro está entrando em uma nova era com as mais recentes aquisições. Está caminhando rumo a se tornar a principal força de combate da América do Sul, mas precisa priorizar alguns projetos em detrimento de outros para maximizar seus esforços de modernização em cenário orçamentário restritivo, e o operacional cada vez mais desafiador.

É uma oportunidade única de realizar um grande salto operacional e tecnológico aproveitando as lições dos campos de batalha atuais.

VBC Cav Centauro 2BR em testes no Campo de Saicã/ CMS

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