
As recentes críticas ao Banco Central (BC), tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, refletem uma prática recorrente em momentos de instabilidade econômica: a tentativa de transferir responsabilidade das decisões de política monetária para a autoridade monetária. A análise é do economista Bruno Corano, que participou do programa BM&C News.
Segundo Corano, a postura adotada por figuras como o presidente Lula e o presidente Donald Trump se assemelha ao usar o BC como “bode expiatório”. “O animal político funciona assim: quando dá certo, o mérito é meu. Quando não dá, é preciso encontrar um culpado”, afirmou.
Lula e o BC: mudança de tom sem mudança de política
Corano relembrou o período de embate entre o presidente Lula e o então presidente do BC, Roberto Campos Neto. Durante meses, houve pressão e críticas sobre a condução da política de juros. Contudo, com a chegada de Gabriel Galípolo à diretoria e sua possível futura presidência, o discurso mudou — apesar da política monetária ter sido mantida.
“Entrou o Galípolo e o que mudou concretamente? Nada. Ao contrário, ele vem seguindo exatamente a mesma linha. E o Lula parou de criticar. Isso mostra a incoerência política do discurso”, observou Corano.
Nos EUA, Trump mira Jerome Powell
A situação americana também foi tema da entrevista. Donald Trump, em meio à tensão criada por sua política comercial, voltou a mirar críticas ao presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. O objetivo, segundo Corano, é o mesmo: isentar-se de eventuais impactos negativos nas expectativas econômicas.
“Trump está tentando preparar o terreno para culpar o Fed por qualquer desaceleração, mesmo sendo ele o responsável pelo aumento de incertezas no mercado”, afirmou.
Corano alertou ainda para a preocupação crescente de analistas quanto à possibilidade de Trump indicar um nome de confiança absoluta para a presidência do BC americano. O temor é que essa escolha possa comprometer a independência da autoridade monetária nos Estados Unidos.
Mercado já especula próximos passos
Embora ainda seja cedo para reações nos preços de ativos, o mercado financeiro já monitora o cenário com atenção. Corano ressalta que o histórico de Trump de priorizar nomes alinhados politicamente pode gerar apreensão nos próximos meses.
“O maior medo hoje é: será que Trump indicaria alguém submisso o suficiente para não agir tecnicamente? E mais, qual seria a capacidade desse nome de influenciar os demais membros do comitê?”, questionou.
Assista na íntegra:
Leia mais notícias e análises clicando aqui
O post Críticas ao BC são tentativa política de transferir responsabilidade? apareceu primeiro em BM&C NEWS.