Opinião: “a velha tática de desqualificar a imprensa”

Na semana passada, a revista britânica “The Economist” publicou um artigo sobre a atuação do Supremo Tribunal Federal no Brasil. No texto, uma frase chamava a atenção dos leitores: “A democracia brasileira tem outro problema: juízes com muito poder”. Em seguida, apontou diretamente para o ministro que parece representar a tese levantada pela publicação. “Nenhuma figura personifica isso melhor do que Alexandre de Moraes, que ocupa o cargo no STF. Seu histórico mostra que o poder judicial precisa ser reduzido”.

Como era de se esperar, o espírito de corpo da mais alta corte brasileira respondeu à cutucada. Alguns dias atrás, o presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, rebateu o artigo e tentou desqualificar o semanário inglês. “O enfoque dado na matéria corresponde mais à narrativa dos que tentaram o golpe de Estado do que ao fato real de que o Brasil vive uma democracia plena, com Estado de direito, freios e contrapesos e respeito aos direitos fundamentais”, escreveu Barroso.

“The Economist” alinhada com aqueles que tramaram um golpe de Estado no Brasil? Essa é difícil de engolir. Vejamos o que disse a mesma revista em 2022, sobre o então presidente Jair Bolsonaro e seu principal oponente, o hoje mandatário Luiz Inácio Lula da Silva. Os editores da Economist afirmaram que Bolsonaro estava “constantemente procurando maneiras de destruir as estruturas” da democracia brasileira. Já Lula da Silva era definido como um “esquerdista pragmático”. “Longe de ser o candidato ideal” para o Brasil, ele pelo menos era um “apoiador da democracia”. Ou seja, na visão da revista, Lula era considerado dos males o menor para as eleições daquele ano.

O texto, ainda, conclama outras nações a “apoiarem publicamente a democracia brasileira, e discretamente deixarem claro para os militares brasileiros que qualquer coisa minimamente parecida com um golpe faria o Brasil parecer um pária internacional”.

Uma publicação que propaga essa visão poderia dar um cavalo-de-pau ideológico e apoiar (mesmo que sub-repticiamente) uma tentativa de retrocesso democrático? Dificilmente.

O ministro Barroso aproveita sua nota para desmentir a seguinte passagem da reportagem: “Em 2023, o presidente da Corte exultou ter “derrotado Bolsonaro”. O ministro escreveu: “O presidente do Tribunal nunca disse que a corte ‘defeated Bolsonaro’. Foram os eleitores”.

Bem, podemos entrar aqui em uma discussão semântica. Em julho de 2023, em um congresso da União Nacional dos Estudantes, o presidente do STF, como se pode verificar no vídeo abaixo, disse: “Nós derrotamos o bolsonarismo”. Não é exatamente a mesma coisa, mas o sentido é rigorosamente igual – uma vez que a figura de Jair Bolsonaro se confunde com o movimento que o ex-presidente lidera.

Para abraçar o espírito de corpo e defender a instituição que representa, Barroso apelou para o velho truque de desqualificar um veículo de imprensa – algo que os extremistas políticos, os mesmos que estão em sua mira, fazem com frequência e desenvoltura.

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