“Limite não é castigo, é cuidado”

“A rotina em família ajuda a fortalecer o vínculo entre pais e filhos adolescentes, mesmo diante dos desafios dessa fase de transição

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Reprodução/Canva

A adolescência é a fase, segundo educadores, que pode ser uma das mais desafiadoras para os pais. Nesse período, meninos e meninas tendem a se fechar. Não à toa, o quarto se torna, muitas vezes, o “mundo” deles. E é justamente neste espaço que muitos adolescentes se perdem.

Pós-doutor em Estudos da Criança, Hugo Monteiro e seu livro: A Geração do Quarto.

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Divulgação

Em seu livro “A Geração do Quarto”, o pós-doutor em Estudos da Criança, doutor em Educação e neuropsicólogo Hugo Monteiro Ferreira aborda temas como a importância de ouvir crianças e adolescentes e pensar na saúde mental desse público. Em conversa com a reportagem, Hugo falou sobre o papel dos pais no comportamento da nova geração. A Tribuna: Por que tantos pais sentem que não estão fazendo o suficiente por seus filhos adolescentes?Hugo Monteiro Os pais se sentem culpados porque eles realmente estão implicados no cenário atual. Ou são muito duros ou são permissivos. Raros os pais que conseguem ser equilibradamente democráticos e conseguem ter uma postura de autoridade, sem usar autoritarismo como estratégia educativa.Existe um equilíbrio ideal entre impor limites e dar liberdade aos adolescentes? O equilíbrio está em acompanhar. Pais que acompanham os filhos, sabem sobre suas vidas, seus gostos, seus desgostos, sua manias, seus interesses, suas fragilidades e seus fortalecimentos. Conseguem deixar os filhos livres, porém sem que esses filhos se sintam abandonados. A liberdade é o inverso do abandono, da terceirização, da exaustão de educar. É importante estabelecer limites, mas é fundamental entender que limite não é sinônimo de castigo, mas de cuidado.Na sua avaliação, em quê os pais mais têm falhado? Os pais falham muito quando não conversam com os filhos, quando não os acolhem como eles são, quando querem que eles sejam reproduções deles, quando não envolvem os filhos nas decisões coletivas, quando são indiferentes, quando querem invadir a privacidade deles e quando acham que são culpados por todos os erros dos filhos. Os pais erram todas às vezes em que não pedem ajuda em situação necessária e tentam resolver sozinhos equações para as quais não há a solução.Como resolver isso?Entendo ser fundamental que os pais aprendam a ser pais. A parentalidade é também uma aquisição intelectual. Desse modo, estudar o que é ser pai, o que é ser mãe, o que é ter filho, pode ser um caminho.Estratégias para aproximaçãoTomar café da manhã sempre que possível e realizar leituras e orações juntos, antes de dormir, são alguns dos “rituais” que a gerente de marketing e de projetos em Economia Criativa Priscila Ricardo, 41, e o marido, Edu Edson da Silveira, 52, tentam manter com os filhos Pedro Cainã, 14, e Amélia, 6.

Priscila Ricardo treina muay thai com o filho Pedro Cainã, de 14 anos: conexão através do esporte .

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Acervo Pessoal

Priscila conta também que buscou se conectar com o mais velho através da música e do esporte. “Corremos, fazemos cross e muay thai juntos. Também tiramos momentos em que ele toca violão ou teclado e eu canto as músicas que a gente mais gosta. Ressalto que não são todos os dias que conseguimos fazer isso, mas não desistimos de ajustar a rotina para manter esses momentos de troca e conexão”.Com a chegada da adolescência do filho, Priscila relata que sentiu mais dificuldade de se aproximar. “Ele, que era muito falante e contava sobre tudo, naturalmente se fechou, então tive que criar estratégias para estar mais perto, como ir treinar juntos”.“Em geral, toda vez que voltamos dos treinos, percebo que ele se sente mais à vontade de me contar sobre o que está deixando-o mais ansioso, as dificuldades na escola, novos amigos e amigas que ele fez”. Pedro, assim como diversas crianças, também já passou por bullying na escola, quando tinha 9 anos, mas contou à mãe, que rapidamente entrou em contato com a escola.Priscila revela que queria ter dado celular e acesso às redes sociais mais tarde para Pedro, e sente muito por ficar tanto tempo longe dos filhos. “Amélia não tem celular nem redes sociais. Pedro teve o primeiro celular com 11 anos e criou a conta no Instagram apenas com 13. Foi bem difícil segurar, pois todos os amigos tinham desde muito cedo. Olho todos os dias o controle parental do celular dele. Se extrapolou as 2h30 combinadas, eu tomo medidas corretivas, como carregar o celular dele comigo”. Pais inseguros com as redes sociaisO avanço da tecnologia e das redes sociais tem aumentado a insegurança dos pais sobre a relação com os filhos, afirmam especialistas. “Por um lado, os pais são constantemente bombardeados com conteúdos que idealizam a criação dos filhos, criando um padrão inatingível e gerando culpa e insegurança” , destaca a psicóloga Henza Rafaela Morandi. Por outro lado, segundo Henza, há também pais que ainda subestimam os impactos das redes na vida dos filhos, seja pelo desconhecimento dos riscos (como cyberbullying, exposição precoce a conteúdos inadequados e impacto na saúde mental), seja pela dificuldade em impor limites ao uso de telas.A psicóloga infantojuvenil Paula Santos destaca que ainda há pais que não possuem, por exemplo, um controle parental no celular, nem diálogo e nem conexão bem estabelecida com os filhos. “Há filhos que têm domínio do celular. Os pais precisam estabelecer limites e regras, antes de darem o celular para o filho”.A PesquisaPais foram entrevistados pela internet.4. Você se preocupa com o impacto das redes sociais e internet na vida do seu filho?- Sim: 62,2% – Não: 18,7% – Mais ou menos: 18,7%5. Você sabe a fundo sobre o comportamento do seu filho na escola e como ele pode se comportar caso sofra bullying?- Sim, sei como ele agiria: 62,2% – Não tenho certeza sobre o comportamento dele: 37,8%6. Você acredita que falha na criação e poderia fazer mais pelo seu(s) filhos(s)? – Sim, falho e poderia fazer mais: 72,1%- Não: 27,9% 7. Em quais áreas você sente que poderia fazer mais pelos seus filhos?- Educação: 67,2% – Tempo de qualidade: 62,1% – Apoio emocional: 51,5% – Lazer: 17,1% 8. O que impede você de fazer mais pelos seus filhos?- Falta de tempo: 46,9% – Dinheiro: 8,2% falta de tempo- Cansaço: 13% – Sobrecarga de trabalho: 31,8% 

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