Onça-pintada: 50% dos animais existentes no mundo estão no Brasil

As onças-pintadas são ameaçadas de extinçãoReprodução/Instituto Onça-Pintada

O caso do caseiro morto por uma onça-pintada na última segunda-feira (21), na região de Touro Morto do Pantanal sul-matogrossense, reacendeu a discussão sobre a conservação e habitat do maior felino do continente americano

De acordo com especialistas, ataques de onça-pintada são raros e podem acontecer em casos do felino se sentir acuado, com fome ou medo de perigo a filhotes. Para a Polícia Militar Ambiental (PMA), a falta de alimentos na região pode ter motivado o animal.

Habitat da onça-pintada

Considerado o terceiro maior felino do mundo, a espécie se concentra principalmente em países da América do Sul e Central. Segundo o Instituto Onça-Pintada (IOP), o Brasil tem a maior população do felino, com cerca de 50% dos indivíduos encontrados no mundo.

A onça-pintada pode ser encontrada em florestas úmidas como a Amazônia e a Mata Atlântica, savanas como o Cerrado e a Caatinga, e áreas alagadas como o Pantanal, aponta o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Os locais que concentram a maior parte da população desses animais são o Pantanal e a Amazônia.

É justamente no Pantanal onde estão as maiores onças: os machos podem pesar até 140 quilos, enquanto as fêmeas chegam a 90, de acordo com o ICMBio. A grande quantidade de presas, como capivaras e jacarés, junto com a presença de áreas preservadas, ajuda a manter populações saudáveis e estáveis de predadores na região.

Apesar de se adaptarem a diferentes ambientes, as onças-pintadas estão perdendo espaço na natureza graças ao desmatamento — fator que também reduz a quantidade de presas. Com isso, o encontro dos animais em áreas urbanas têm se tornado mais comuns nas últimas décadas, aponta o Instituto.

Moradores de Ladário (MS) se depararam com uma onça-pintada circulando pelas ruas da cidade em setembro de 2023. O animal, que chegou a entrar em uma casa, foi capturado pelos bombeiros e devolvido à natureza. Ela havia perdido o filhote, que também chegou a ser recuperado pelos bombeiros.

“Corredor da Onça”

O rio Araguaia é conhecido como ‘corredor da onça’Reprodução/Instituto Onça-Pintada

Alguns mecanismos de proteção da onça-pintada incluem corredores ecológicos estratégicos, feitos a partir de faixas de vegetação para que os animais se sintam seguros para transitar entre as matas.

O maior e principal do Brasil para preservação da espécie é chamado de “Corredor da onça”, que protege mais de cinco mil onças-pintadas. Segundo o IOP, que coordena o projeto, o corredor é feito a partir do Rio Araguaia, com cerca de três mil quilômetros de extensão. Ele conecta os dois maiores biomas brasileiros, Amazônia e Cerrado, e consequentemente, as populações de onças-pintadas que vivem nesses biomas.

O Rio Araguaia nasce no sudoetes de Goiás e abrange os estados do Mato Grosso, Pará e Tocantins, além de passar também pelo Maranhão. O corredor tem 20 quilômetros de largura entre as duas margens do rio.

O biólogo Leandro Silveira explicou que “Sem corredores, as populações ficam ameaçadas de extinção por causa da consanguinidade genética. Os animais vão cruzando parentes com parentes, vão nascendo com problemas reprodutivos e acabam sendo extintos por questões genéticas.”

Cerca de 70% do “corredor da onça” está em áreas de reserva legal de propriedades ou unidades de conservação. São 57 áreas protegidas ao longo do corredor, entre terras indígenas e o parque nacional.

Um dos principais objetivos desse e de outros corredores ecológicos para as onças é conectar diferentes populações dos animais e evitar o isolamento genético — sem a introdução de novos genes em uma cadeia reprodutiva, o grupo pode entrar em extinção.

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