Paciente com câncer registra em delegacia desaparecimento de guias de orixás em hospital no Rio


Tainá Santos da Paz, em tratamento contra o câncer, registrou o caso na Delegacia de Crimes Raciais. Fé violada: paciente com câncer denuncia descarte de objetos sagrados em hospital no Rio
Uma paciente de 33 anos, em tratamento contra um câncer de mama e metástase na coluna, registrou, nesta quarta-feira (24), uma ocorrência por intolerância religiosa na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, no Rio.
Tainá Santos da Paz acusa funcionários do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, vinculado à UniRio, de terem jogado fora seus fios de conta sagrados durante a internação.
Segundo Tainá, os colares religiosos estavam ao lado de sua cama no leito da unidade hospitalar, na Urca, quando desapareceram após uma troca de roupa de cama, na última sexta-feira (18).
Ela afirma que havia saído para tomar banho e, ao retornar, os fios — ligados aos orixás Oxumaré, Oyá e Oxum — não estavam mais no quarto.
“É minha fé, é tudo o que eu tenho. Os meus fios me acompanham há muitos anos, na gestação, em todos os momentos da minha vida, e agora estou sem meus fios”, lamentou Tainá.
A jovem foi iniciada no candomblé há 16 anos, e os fios faziam parte de sua história religiosa. Os cordões têm significados espirituais profundos nas religiões de matriz africana e simbolizam proteção, ligação com os orixás e identidade religiosa.
O caso ganhou repercussão nas redes sociais.
Mãe Márcia Marçal, yalorixá, afirmou que os fios representam mais do que objetos: “É a nossa proteção, o nosso amuleto, é o nosso amor, é a nossa paixão.”
A pesquisadora Carla Akotirene, especialista em estudos de raça e gênero, destacou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o bem-estar espiritual como parte da saúde.
“Se a Tainá perdeu as guias de orixá, ela também perdeu a saúde espiritual”.
Em nota, a UniRio afirmou que “tem compromisso com o respeito por todos os credos” e que “acompanha o caso de perto, esperando a apuração em andamento pela administração do hospital para que responsabilidades sejam apuradas, e providências, tomadas.”
O caso foi registrado como intolerância religiosa, crime com pena prevista de até 5 anos de prisão.
Em nota, a Universidade ressalta que repudia qualquer forma de desrespeito à liberdade religiosa
Reprodução/TV Globo
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