À frente dos Brics, Brasil pede “retirada total das forças israelenses de Gaza” e defende multilateralismo

O Brasil, que ocupa a presidência rotativa do grupo Brics, pediu nesta segunda-feira (28) a “retirada total das forças israelenses de Gaza”, considerando “deplorável” o desrespeito ao cessar-fogo, segundo a fala do ministro brasileiro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. 

(RFI) “É necessário garantir a retirada total das forças israelenses de Gaza, a libertação de todos os reféns e detidos e a entrada de ajuda humanitária”, disse Vieira ao abrir a reunião dos ministros das Relações Exteriores do Brics, no Rio de Janeiro. 

Na ausência de um acordo entre as duas partes sobre a extensão da trégua, Israel retomou seus ataques aéreos e terrestres no território palestino em 18 de março e vem bloqueando a entrada de ajuda humanitária desde 2 de março. Esse bloqueio é “inaceitável”, de acordo com Mauro Vieira.  

O Brasil, que detém a presidência rotativa dos Brics, pediu na segunda-feira que o multilateralismo seja fortalecido para pôr fim às guerras em Gaza e na Ucrânia, em uma reunião que também foi ofuscada pela guerra comercial lançada por Donald Trump. 

“Estamos enfrentando crises globais e regionais convergentes, com emergências humanitárias, conflitos armados, instabilidade política e a erosão do multilateralismo”, enfatizou Vieira. “Nosso papel como grupo é mais vital do que nunca”, reforçou.

Brics e a guerra na Ucrânia

Além do Brasil, fazem parte do bloco a Rússia, a Índia, a China, a África do Sul, a Arábia Saudita, o Egito, os Emirados Árabes Unidos, a Etiópia, a Indonésia e o Irã. 

Vieira, no entanto, foi mais reticente em relação à guerra na Ucrânia, limitando-se a pedir “uma solução diplomática que respeite os princípios e objetivos da Carta das Nações Unidas”.

A reunião de dois dias começou com o anúncio surpresa do presidente russo de uma trégua de três dias, de 8 a 10 de maio. Kiev respondeu que Moscou deveria concordar “imediatamente” com um cessar-fogo “abrangente” por “pelo menos 30 dias”.

Em suas reuniões mais recentes, os Brics, dos quais a Rússia é membro fundador, limitaram-se a comentários “gerais” sobre o conflito, sem “nenhuma condenação à Rússia por parte dos outros membros”, disse à AFP Roberto Goulart Menezes, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília. 

Guerra comercial dos EUA e direitos alfandegários 

Ao rejeitar o “unilateralismo”, o chefe da diplomacia brasileira não citou ninguém, mas a guerra comercial lançada por Donald Trump contra o mundo e, em particular, contra a China, o peso pesado do bloco emergente, está na mente de todos.

Desde que voltou ao poder em janeiro, o presidente americano impôs tarifas de pelo menos 10% sobre a maioria dos parceiros comerciais dos Estados Unidos e uma sobretaxa separada de 145% sobre a maioria dos produtos chineses que entram nos Estados Unidos. 

Pequim retaliou com a introdução de sua própria sobretaxa de 125% sobre os produtos americanos. Os Brics representam quase metade da população mundial e 39% do PIB global. Uma questão delicada é a das transações em moedas não americanas dentro do grupo, abordada em outubro na última reunião de cúpula do bloco em Kazan, na Rússia.

O ministro Vieira procurou amenizar a questão. “Um dos projetos é realizar o comércio em moedas locais, (…) mas não há planos de substituir ou criar novas moedas”, disse. O que há é um interesse em transações de baixo custo. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, fez um comentário semelhante: em uma entrevista ao jornal O Globo. Ele descreveu a ideia de “discutir uma transição para uma moeda única” como “prematura”.

Donald Trump ameaçou impor tarifas de 100% sobre os países envolvidos se eles tentarem pôr fim ao domínio internacional do dólar. O Brasil é um dos países menos afetados pelas novas tarifas (recebeu 10%) e, portanto, provavelmente manterá um perfil comercial cauteloso. 

Na declaração final esperada para a tarde desta segunda-feira, as mudanças climáticas devem ganhar destaque a poucos meses da COP30, a conferência climática da ONU marcada para novembro em Belém, na Amazônia brasileira.

Para o Brasil, os países ricos têm a “obrigação” de financiar a transição energética. A reunião dos ministros do Brics tem o objetivo de preparar a cúpula dos chefes de Estado marcada para 6 e 7 de julho no Rio. 

(com AFP)

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