Ministra diz que Brasil precisa planejar o futuro e não apenas reagir ao presente

 

 

Durante os Diálogos para a Construção da Estratégia Brasil 2050 no Distrito Federal, Simone Tebet afirma que Brasil vive hoje as consequências de escolhas não planejadas.

Foto: Ministério do Planejamento e Orçamento/divulgação

Planejar o futuro é tão urgente quanto enfrentar os desafios do presente. A reflexão guiou a fala da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, durante a etapa do Distrito Federal dos Diálogos para a Construção da Estratégia Brasil 2050, realizada nesta terça-feira (29/4), em Brasília.

Ao defender o planejamento de longo prazo como prioridade, a ministra lembrou o quanto decisões estratégicas que deixaram de ser tomadas no passado impactaram negativamente o país. “Talvez, com uma estratégia lá atrás, tivéssemos passado melhor pela pandemia, preservado empregos, evitado parte da miséria”, afirmou.

Durante sua apresentação, Tebet fez questão de deixar no ar as perguntas que acabaram por conduzir os debates do encontro: que Brasil queremos para 2050? E como podemos chegar lá? Promovido pela Secretaria Nacional de Planejamento (Seplan), o seminário marcou a nona edição da iniciativa itinerante que está ouvindo a sociedade brasileira para pensar o futuro do país com base em evidências, participação social e metas de longo prazo. A proposta é construir um plano nacional capaz de atravessar governos e orientar políticas públicas até 2050.

 “É muito difícil falar de planejamento no Brasil. Porque no Brasil do presente, com desigualdade, crise climática, fome e desemprego, há poucos ouvidos dispostos a ouvir sobre o futuro”, observou Tebet.

Mas é agora que o país precisa se planejar. A proposta, disse a ministra, é mais do que traçar metas para os próximos 25 anos. Trata-se de construir “uma carta náutica coletiva” que conecte o presente com o futuro desejado pelo povo brasileiro.

O secretário-executivo do MPO, Gustavo Guimarães, reforçou essa visão ao destacar a importância de transformar desejos em direção clara. “Para sair do campo dos sonhos, o Brasil precisa planejar. Temos ideias inovadoras e potencial em diversas áreas, mas muitas vezes não sabemos aonde queremos chegar. E isso se reflete na pergunta que nos fazem lá fora: qual é a visão de país que vocês têm?”, relatou. Segundo ele, a Estratégia Brasil 2050 é uma resposta concreta a esse questionamento e busca construir um caminho coletivo, dinâmico e adaptável, mas sempre guiado por objetivos definidos.

O desafio de pensar adiante

“Temos uma matriz energética limpa, mas uma taxa elevada de desmatamento. Um sistema único de saúde, mas pressão sobre a Previdência. Uma estabilidade macroeconômica que convive com uma das maiores desigualdades do mundo”, pontuou a ministra. A missão, segundo ela, é encarar essas ambivalências com coragem, sem ilusões, e com a disposição de estabelecer metas concretas. “Podemos ousar dobrar o PIB per capita do Brasil? Conseguiremos reduzir a desigualdade para 0,40? Garantir carbono neutro até 2050?”, refletiu.

Para responder a essas perguntas, o governo se apoia em evidências e na escuta ativa da sociedade. A secretária Nacional de Planejamento, Virgínia de Ângelis, apresentou a arquitetura da estratégia, baseada em estudos do Ipea, IBGE e consultas públicas. “Queremos construir uma bússola, não um salto. Cada decisão de hoje precisa considerar seus impactos no futuro. Estamos aqui para desenhar um plano que possa atravessar governos, regiões e interesses imediatos”, afirmou.

A estratégia traz três cenários possíveis para o país: de alto crescimento, de estagnação e um intermediário. Em todos eles, três grandes tendências são determinantes: as mudanças climáticas, a transição demográfica e as transformações tecnológicas. “O envelhecimento populacional está acontecendo antes do Brasil enriquecer. Isso exige planejamento em educação, produtividade, previdência e economia do cuidado”, alertou Virgínia em relação ao fim do bônus demográfico brasileiro.

Planejar é somar forças

A ministra reconheceu que o Governo Federal sozinho não será capaz de dar conta do futuro. O sucesso da estratégia depende da integração com os estados, setor privado e sociedade civil. O gerente executivo de Relações Institucionais do Banco do Brasil, André Machado, resumiu o espírito da parceria: “Pensar 25 anos à frente é um desafio importante. Estamos aqui para contribuir, focando na sustentabilidade, na redução das desigualdades e no crescimento econômico”.

A representante do BID no Brasil, Anete Killmer, reforçou. “Quem conhece o Brasil sabe do seu potencial. O desafio é transformar isso em benefício real para quem vive aqui. E essa é a alma da nossa nova estratégia conjunta”, afirmou. Já Pedro Guerra, que representou o vice-presidente da República Geraldo Alckmin na abertura, citou uma frase geralmente atribuída a Abraham Lincoln para defender o planejamento como ato fundamental. “Se quiserem me dar seis horas para cortar uma árvore, passarei quatro afiando o machado”, disse.

Já Otávio Veríssimo Sobrinho, representando o Governo do Distrito Federal, traçou um paralelo com a construção de Brasília. “Assim como JK interiorizou o desenvolvimento com o plano de metas, a Estratégia 2050 pode ser uma nova convergência para um Brasil mais integrado”, afirmou.

Contribuições da sociedade para o Brasil de 2050

Após a abertura, o seminário foi dedicado à escuta da população. A dinâmica foi mediada pela presidenta do IPEA, Luciana Servo. O secretário para a Transformação do Estado do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI), Francisco Gaetani, elogiou a iniciativa. “É extraordinário. Estamos colocando os trilhos. A velocidade e a carga veremos depois”, disse. Para ele, o Brasil precisa se conhecer melhor, recuperar a capacidade de dialogar e romper o isolamento internacional.

Décio Lima, presidente do Sebrae, por sua vez, afirmou que, apesar das limitações do sistema capitalista, é possível construir melhorias. “O Brasil vive uma oportunidade sem igual. Sustentabilidade, inovação e globalização não são mais opções, são condições”, disse. A diretora do Departamento de Clima do Itamaraty, Liliam Chagas, lembrou que o ano de 2050 é estratégico para o planeta. “É o ano-limite para atingirmos a neutralidade climática. Ter um planejamento que integre a mudança do clima como risco alto é acertado e necessário”, explicou.

Para Jefferson Gomes, diretor de Inovação da CNI, o foco precisa estar na necessidade de aumentar a produtividade, investir em energia limpa e acelerar a transformação digital. “O desafio é hercúleo, mas temos condições de avançar se trabalharmos de forma articulada”, avaliou. Ricardo Galvão, presidente do CNPq, defendeu a soberania científica e tecnológica como pilar para o futuro do país. “Precisamos de uma base científica forte para enfrentar a economia do conhecimento. Não podemos abrir mão disso”, afirmou.

Depois de passar por nove capitais, os Diálogos para a Construção da Estratégia Brasil 2050 continuarão em maio, com eventos programados para o Mato Grosso do Sul e alguns estados do Norte do país.

O objetivo é consolidar, até julho, um documento que reflita a diversidade regional e estabeleça um projeto de futuro robusto e legitimado pela sociedade.

 

Fonte: Ministério do Planejamento e Orçamento

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