Morte de bebê em parto no Hospital Ruth Cardoso leva MPSC a abrir novas investigações

Um bebê morreu durante o parto no Hospital Ruth Cardoso, em Balneário Camboriú, no dia 25 de abril. A mãe, Dayla Fernanda Pedroso Ramos, afirma ter passado mais de uma hora em trabalho de parto normal acompanhada apenas por enfermeiras.

O bebê só foi retirado após uma cesariana de emergência, mas já sem batimentos cardíacos. A família acusa o hospital de negligência, e o caso gerou abertura de investigações da Polícia Civil e do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC).

Segundo o pai da criança, Edemar Leitemperger, não havia médicos presentes na sala durante grande parte do trabalho de parto.

Vídeos gravados por ele mostram a movimentação no centro obstétrico e reforçam o relato de que o acompanhamento inicial foi feito por enfermeiras obstétricas.

A tentativa de parto normal teria durado até por volta das 23h, quando um médico chegou ao local e optou pela cesárea de urgência. A criança já não apresentava sinais vitais.

A versão da família contraria a nota da prefeitura, que afirma que o atendimento seguiu os protocolos do Ministério da Saúde e que o médico obstetra estava na unidade durante todo o período, disponível em regime de plantão.

Segundo a Secretaria de Saúde, partos de baixo risco com evolução natural podem ser conduzidos por enfermeiras obstétricas, conforme resolução do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) nº 0516/2016 (veja as notas no final da reportagem)

Dayla relata que deu entrada no hospital às 8h da manhã do dia 24 com dois centímetros de dilatação e permaneceu sendo monitorada ao longo do dia. Às 19h, o médico rompeu a bolsa e iniciou a indução do parto. Ela entrou em trabalho ativo por volta das 22h, com fortes dores e sangramento.

Ainda segundo seu relato, as enfermeiras confundiram o sangramento com a ruptura da bolsa e não perceberam que não havia passagem para o bebê nascer por parto normal.

“Mesmo fazendo força, ele não saía. As enfermeiras achavam que ia nascer, mas eu não tinha passagem. Quando o médico viu, correu para a cesárea. O bebê já não tinha batimentos”, contou Dayla ao G1.

A prefeitura de Balneário Camboriú afastou preventivamente o médico responsável e abriu sindicância interna para apurar o caso.

Também foi solicitada a análise da Comissão de Óbito e aberto processo pelo Comitê de Ética da unidade. A empresa terceirizada que presta serviços médicos ao hospital foi notificada para afastar o profissional envolvido.

A prefeita Juliana Pavan afirmou que esteve pessoalmente no hospital no dia seguinte ao ocorrido e determinou o início imediato das apurações. Segundo ela, parte das informações apuradas são sigilosas, mas as medidas cabíveis já foram adotadas pela gestão municipal.

O caso também levou o Ministério Público de Santa Catarina a instaurar duas novas investigações. A 6ª Promotoria de Justiça, voltada à área da saúde, e a 4ª Promotoria, que atua na defesa da infância e juventude, apuram possíveis falhas médicas e condutas de servidores públicos durante o atendimento.

Além disso, a 9ª Promotoria de Justiça já investigava suspeitas de irregularidades na contratação da empresa responsável por parte da equipe médica do hospital antes mesmo da morte do bebê.

O Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina (CRM-SC) reforçou que é obrigatória a presença de uma equipe multidisciplinar em salas de parto, composta por gineco-obstetra, pediatra ou neonatologista, para garantir a segurança da mãe e do recém-nascido.

As investigações da Polícia Civil e do Ministério Público seguem em andamento sob sigilo parcial. Enquanto isso, a família aguarda respostas sobre as circunstâncias da morte e cobra responsabilização por parte dos envolvidos.

Leia também:

  • PEC que extingue reeleição para cargos do Executivo a partir de 2030 será analisada nesta quarta (7)

Confira as notas da prefeitura sobre o óbito do bebê no Hospital Ruth Cardoso

Nota publicada em 26 de abril:

Em cumprimento às diretrizes de gestão em saúde e com a finalidade de manter a transparência, a Prefeitura de Balneário Camboriú informa que, diante do óbito neonatal ocorrido no dia 25 de abril de 2025, no Centro Obstétrico do Hospital Ruth Cardoso, foram adotadas as seguintes medidas administrativas:

Acolhimento à Família: suporte psicológico e informações sobre os procedimentos.

Afastamento Cautelar: do médico obstetra responsável até esclarecimento das circunstâncias.

Sindicância Interna: investigação das condições que levaram ao óbito.

Protocolo com a Comissão de Óbito: análise sistemática do evento.

Investigação pelo Comitê de Ética: conformidade das práticas assistenciais.

Acesso ao Prontuário: solicitação do prontuário da gestante do acompanhamento pré-natal.

Encaminhamento ao SVO: elaboração de laudo técnico.

Além disso, determinamos a participação ativa da responsável pela rede Alyne a investigação, com prazo de 72 horas para entrega de parecer técnico, e notificamos a empresa responsável pelo serviço para o afastamento imediato do médico responsável pelo parto.

A Prefeitura de Balneário Camboriú reafirma seu compromisso com a transparência e a qualidade dos serviços de saúde.

Atenciosamente, Aline Leal, Secretária de Saúde

Nota enviada em 1º de maio:

A Prefeitura de Balneário Camboriú, por meio da Secretaria de Saúde, esclarece que o atendimento foi realizado de acordo com os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde, rede Alyne e diretrizes das boas práticas obstétricas.

Partos de baixo risco, com evolução natural são acompanhados por enfermeiras obstétricas que são profissionais habilitadas e especialistas no processo de parto normal. Conforme resolução do Cofen nº 0516/2016 em seu

Art. 1º que normatiza a atuação e a responsabilidade do Enfermeiro, Enfermeiro Obstetra e Obstetriz na assistência às gestantes, parturientes, puérperas e recém-nascido nos Serviços de Obstetrícia onde ocorram nascimentos.

O médico obstetra esteve presente na unidade durante todo o atendimento, em regime de plantão, disponível para intervir a qualquer momento, caso necessário.

O modelo possui atuação integrada entre médicos e enfermeiras obstétricas, garantindo assistência contínua. Reafirmamos nosso compromisso com a ética e o respeito à experiência do nascimento.

 

O post Morte de bebê em parto no Hospital Ruth Cardoso leva MPSC a abrir novas investigações apareceu primeiro em Misturebas News.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.