Vitória Tática, Derrota Estratégica.

Icônica foto da queda de Saigon, em 1975, com as pessoas fugindo do teto da Embaixada Americana

Pinto Silva Carlos Alberto[1]

Trechos do livro
ESTRATÉGIA: A GUERRA NO VIETNàNO CONTEXTO. HARRY G SUMMERS Jr.

(O objetivo deste livro é ordenar uma teoria usando nossa experiência na guerra do Vietnam como veículo).

Importante para a discussão do assunto “Controle Civil das Forças Armadas[2]. Uma questão atual.

Você sabe que nunca nos derrotaram no campo de Batalha? Disse o coronel americano.

O coronel norte vietnamita ponderou esta observação por um momento. “Pode ser”, respondeu, “mas isso também é relevante”. Conversação em Hanoi, abril de 1975.

Um dos aspectos mais frustrantes da guerra do Vietnam do ponto de vista do Exército é que quanto à logística e à tática nós tivemos sucesso em tudo o que fizemos. No auge da guerra, o Exército era capaz de retirar e colocar no Vietnam quase um milhão de homens por ano, alimentá-los, fardá-los, alojá-los, abastecê-los com armas e munição e, em geral, mantê-los no campo melhor do que qualquer Exército já o tenha feito antes.

Projetar um Exército daquele tamanho no outro lado do mundo era uma tarefa logística e gerencial de enorme magnitude e nós tínhamos sido maiores do que a missão.

No campo de batalha, o Exército era imbatível. Em combates após combates, as forças do Vietcong e do Exército Norte-Vietnamita eram rechaçadas com terríveis perdas. No final, foi o Vietnam do Norte e não os Estados Unidos que emergiu vitorioso.

Como pudemos nos sair tão bem e falhar tão miseravelmente? Esta questão perturbadora foi a razão para este livro.

Pelo menos parte da resposta parece ser que nós víamos o Vietnam num contexto específico em vez de estratégico. Esta má percepção originou-se da nossa negligência para com a estratégia militar na era nuclear após a 2ª Guerra Mundial. Quase toda a literatura profissional sobre estratégia militar era escrita por analistas civis, cientistas políticos do mundo acadêmico e analistas de sistema da comunidade de defesa.

No seu livro Guerra e Política, o cientista político Bernard Brodie devotou um capítulo inteiro à falta do pensamento estratégico militar profissional. A mesma crítica foi feita pelos analistas de sistemas, Alain C. Enthoven e Wayne Smith que comentaram: “Os militares estão entre os menos frequentes contribuidores para a literatura básica sobre estratégia militar e política de defesa. A maioria de tais contribuidores são civis…” Mesmo a assim a chamada “nova” estratégia de resposta flexível é proveniente do pensamento civil, não militar.

Não se quer dizer que os estrategistas civis estão errados. Os cientistas políticos prestaram um serviço valioso ao relacionar guerra com seus fins políticos. Eles forneceram respostas ao “por que?” os EUA devem ir à guerra. Da mesma maneira os analistas de sistemas forneceram respostas sobre “que” meios nós deveríamos usar. O que ficou faltando foi a ligação, a ser providenciada pelos estrategistas militares, do – “como” tomar os meios do analista de sistemas e usá-los para conquistar os fins do cientista político.

Mas, em vez de participar com o assessoramento profissional militar sobre como combater, os militares mais e mais juntaram-se aos analistas de sistemas para determinar os meios materiais que nós deveríamos usar. Na verdade, a concepção de muitos militares do Exército era que “o Exército não faz estratégia “e que” não existe essa coisa de estratégia do Exército”.

Havia um sentimento generalizado de que estratégia era algo orientado para o orçamento e era prioritariamente uma função para alocação de recursos. A missão do Exército, na ideia deles era projetar e procurar material, armamento e equipamento e organizar treinar e equipar soldados para a Defesa.

Estas atitudes derivam ser em parte de uma interpretação superficial da missão do Exército. Se é verdade que a Lei de Segurança Nacional transferiu o comando operacional para o Departamento de Defesa, deixando o Exército com a missão de “organizar treinar e equipar forças da ativa e da reserva”, o Estado-Maior do Exército ainda é encarregado da determinação das missões do Exército da formulação estratégica, planos e aplicações”.

Além do mais, argumentar, como alguns fazem, que na nossa democracia somente o Presidente pode “fazer” estratégia é confundir o assunto pois, na maioria dos casos, o Presidente não formula a estratégia militar, mas, pelo contrário, decide a estratégia que lhe é proposta pelos assessores militares e civis.

Inconscientemente, tais atitudes refletiram uma regressão no pensamento militar. Já em 1971, o então Ten Cel Albert Sidney Britt, do Departamento de História da Academia Militar dos EUA, assinalou que “a moderna filosofia da guerra limitada deriva em parte da praticada no Século XVIII”. As observações do Cel Britt originaram-se da clássica crítica da guerra do Século XVIII: “Da Guerra” de Clausewitz. Sua descrição de 150 anos de idade sobre “arte da guerra” aproxima-se muito das condições. fortemente atacadas por críticos Richard Gabriel e Paul Savage no seu livro largamente citado Crise no Comando (1978) “Um Exército Mais Preocupado Com Administração Do Que Com Estratégia”.

PUBLICADO NO DOCUMENTO “PLANEJAMENTO  ESTRATÉGICO RESENHA – ECEME/CPEAEX/92.
(TEMAS PARA REFLEXÃO)
UM ASSUNTO ATUAL PARA O EXÉRCITO BRASILEIRO


[1]  Carlos Alberto Pinto Silva / General de Exército da reserva / Ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, Ex-comandante do 2º BIS e da 17ª Bda Inf Sl, Chefe do EM do CMA, Membro da Academia de Defesa e do CEBRES.

[2] O controle civil das forças armadas é uma doutrina na ciência militar e política que coloca a responsabilidade final pela tomada de decisões estratégicas de um país nas mãos da autoridade civil do estado, em vez de completamente com a própria liderança militar profissional.

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