Quem foi o cardeal brasileiro que quase virou papa e foi citado até em ‘O Poderoso Chefão 3’


Dom Aloísio Lorscheider já foi arcebispo de Fortaleza e teria sido o primeiro escolhido no conclave de 1978. Sequestro e até citação em filme fazem parte da história do religioso. Cardeal brasileiro Dom Aloísio Lorscheider foi citado em ‘O Poderoso Chefão 3’
Há quase 50 anos, a Igreja Católica teve um conclave para a eleição de um novo líder. Um cardeal brasileiro, dom Aloísio Lorscheider, teria sido o primeiro a ter a maioria dos votos. Ao recusar o cargo por motivos de saúde, o então arcebispo de Fortaleza teria aberto caminho para a escolha de João Paulo II.
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O detalhe dos bastidores do conclave de 1978 foi partilhado em artigo publicado pelo escritor e teólogo Frei Betto. Também na ficção, dom Aloísio Lorscheider foi citado no filme O Poderoso Chefão: Parte 3, ao receber um voto no conclave encenado no longa (veja vídeo acima).
Na vida real, o religioso que poderia ter sido o primeiro papa brasileiro teve uma trajetória marcada pela defesa dos direitos humanos e pelos posicionamentos a favor da democratização do Brasil e contra as torturas praticadas na ditadura militar.
O cardeal vivenciou, ainda, um episódio cujas imagens marcaram a história recente do Ceará: em 1994, ele foi sequestrado por internos de um presídio na Grande Fortaleza enquanto fazia uma visita ao local (veja abaixo na reportagem).
Quase 60 anos de sacerdócio
Dom Aloísio Lorscheider teve quase 60 anos de sacerdócio e participou de dois conclaves
Santuário Nacional/Divulgação
Dom Aloísio Lorscheider participou de dois conclaves e viveu durante o pontificado de sete papas.
Dom Aloísio Lorscheider era neto de alemães e nasceu na cidade de Estrela, no Rio Grande do Sul, em 1924. À época, a Igreja era liderada pelo papa Pio XI (1922 a 1939).
Ele se ordenou como sacerdote aos 23 anos, quando o papa era Pio XII (1939 a 1958).
O sucessor de Pio XII foi o papa João XXIII (1958 a 1963), que nomeou dom Aloísio Lorscheider como bispo, em 1962.
Em seguida, a Igreja foi liderada pelo papa Paulo VI (1963 a 1978). Foi este pontífice quem nomeou dom Aloísio Lorscheider como arcebispo de Fortaleza (1973) e quem deu a ele o título de cardeal (1976).
Como cardeal, dom Aloísio Lorscheider participou dos conclaves para eleger os dois papas seguintes: João Paulo I (1978) e João Paulo II (1978 a 2005).
Ele teve a renúncia aceita pelo Vaticano em 2004, um ano antes do conclave que elegeu Bento XVI (2005 a 2013).
Dom Aloísio Lorscheider faleceu em dezembro de 2007, sem ter vivenciado o pontificado do papa Francisco (2013 a 2025).
Batizado como Leo Arlindo Lorscheider, o religioso passou a adotar o nome de Frei Aloísio em 1944. Enquanto atuou no Rio Grande do Sul, ele foi bispo de Santo Ângelo e chegou a ser eleito presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Foi em 1973 que a ligação de dom Aloísio Lorscheider com o Ceará se fortaleceu, quando se tornou o arcebispo de Fortaleza. Nos 22 anos em que ficou na função, ele ficou conhecido pela participação na vida política, social e religiosa do estado.
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Dentre as causas, o religioso defendeu o fim dos conflitos por terra no Ceará, os direitos dos marginalizados, a melhor distribuição de renda, a redemocratização do Brasil e o fim das torturas durante a ditadura militar.
No episcopado de dom Aloísio, foram onze novas paróquias criadas na Arquidiocese de Fortaleza. Dentre elas, estão as paróquias dos bairros Cidade dos Funcionários, Conjunto Ceará e Bom Jardim, em Fortaleza.
Lembrado por um estilo de vida simples, ele também atuou em instituições como Cáritas Internacional, Secretariado para a União dos Cristãos, Conselho Pontifício “Cor Unum”, Congregação para os Bispos e Congregação para o Clero, da Cúria Romana.
Após deixar Fortaleza, passou a ser arcebispo de Aparecida em 1995. Em razão da idade, ele precisou renunciar ao cargo no ano 2000, quando passou a ser conhecido como o arcebispo emérito de Aparecida.
Ele faleceu em 2007, aos 83 anos. No ano seguinte, o cardeal completaria 60 anos de sacerdócio.
O conclave antes de João Paulo II
Dom Aloísio Lorscheider quase foi o primeiro papa brasileiro, em 1978
Reprodução
Foram dois conclaves realizados em 1978. Isso porque João Paulo I teve uma morte repentina e só ficou por 33 dias na cátedra de Pedro. O cardeal italiano Albino Luciani foi eleito já com a presença de dom Aloísio Lorscheider como votante.
Em artigo publicado em seu site, o escritor Frei Betto revela que a curta duração do papado teve influência na recusa do cardeal brasileiro para ser o próximo papa.
Conforme o frade, dom Aloísio Lorscheider foi o primeiro a obter dois terços dos votos no conclave para escolher o sucessor de João Paulo I.
O brasileiro, que já tinha oito pontes de safena, teria declinado o cargo por motivos de saúde. Ele teria demonstrado o receio de que a Igreja precisasse passar por outro conclave em pouco tempo. O resultado final foi a escolha do papa João Paulo II, o cardeal polonês Karol Wojtyla.
No texto, Frei Betto destaca uma curiosidade: Lorscheider viveu dois anos a mais que João Paulo II, que morreu em 2005.
Citado em ‘O Poderoso Chefão’
Dom Aloísio Lorscheider, cardeal brasileiro, foi citado em cena do filme ‘O Poderoso Chefão 3’
Reprodução
Na década de 1990, o filme ‘O Poderoso Chefão 3’ fez uma referência a dom Aloísio Lorscheider em um conclave fictício (veja vídeo no início da reportagem).
No filme, a votação levou à escolha de João Paulo I. Mas, durante o anúncio dos cardeais que receberam votos, uma das falas diz: “Lorscheider, um voto”.
Sequestro que chocou o Ceará
Sequestro de Dom Aloísio Lorscheider em presídio da Grande Fortaleza, em 1994
Luciano Arruda/Diário do Nordeste
As imagens de um episódio de 1994 ficaram guardadas na memória dos cearenses: o momento em que um presidiário ameaça dom Aloísio Lorscheider com uma faca no pescoço do religioso.
Lorscheider acompanhava uma comitiva em visita ao Instituto Penal Paulo Sarasate, na cidade de Aquiraz. Ele apurava uma denúncia de maus-tratos aos presos. No local, ele e outras 11 pessoas foram feitas reféns, incluindo três padres, um vereador e um deputado.
Os detentos estavam armados com facas, que foram pressionadas contra os reféns. Os criminosos exigiram um carro-forte e armamento para fugir do presídio. A fuga foi feita com 14 detentos e 12 reféns. Todos saíram no mesmo carro-forte, em um calor de aproximadamente 40ºC.
Os reféns foram soltos na cidade de Quixadá, a cerca de 150 quilômetros do presídio. Não houve feridos entre os reféns. Na busca pelos criminosos, dois deles morreram em troca de tiros com os policiais. Os outros participantes do sequestro foram presos.
Antônio Carlos Souza Barbosa, o “Carioca”, líder do sequestro de dom Aloísio Lorscheider, foi preso novamente em 2017.
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