Ata do Copom mantém tom hawkish e afasta corte de juros

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu elevar a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, levando a Selic para 14,75% ao ano. A decisão foi unânime e está detalhada na ata da 270ª reunião, realizada nos dias 6 e 7 de maio de 2025, e divulgada nesta terça-feira.

Segundo o documento, a medida reflete um cenário de inflação persistente, expectativas desancoradas e uma atividade econômica que continua mostrando resiliência, especialmente no mercado de trabalho. O comitê afirmou que a política monetária precisa permanecer significativamente contracionista por um período prolongado para garantir a convergência da inflação à meta.

Copom: cenário externo incerto e protecionismo em alta

A ata destaca que o ambiente externo permanece adverso, com destaque para os efeitos da política comercial dos Estados Unidos. O Copom vê a consolidação de tarifas mínimas como um novo normal no comércio global, o que gera incertezas adicionais sobre crescimento e inflação em diversas economias — inclusive emergentes, como o Brasil.

A deterioração do cenário global e o aumento da incerteza resultaram em maior cautela por parte dos formuladores de política monetária, com ciclos de afrouxamento mais lentos e ênfase na ancoragem das expectativas.

Copom destaca inflação resistente e projeções acima da meta

No cenário de referência, o Banco Central projeta inflação de 4,8% em 2025 e 3,6% em 2026, acima da meta oficial de 3%. O documento também aponta que os núcleos de inflação continuam elevados, com destaque para os serviços, que seguem pressionados em meio a um hiato do produto positivo.

Além disso, o câmbio mais depreciado tem elevado os preços no atacado e começa a se refletir no varejo, enquanto os alimentos mantêm valores altos e pressionam outros itens devido à inércia inflacionária típica da economia brasileira.

Política fiscal gera preocupação para o Copom

O Copom também fez alertas sobre a política fiscal. Segundo os membros do Comitê, a falta de coordenação entre política fiscal e monetária pode elevar a taxa de juros neutra da economia, prejudicando a efetividade das ações do Banco Central e elevando o custo de desinflação.

A ata reforça que políticas públicas precisam ser previsíveis, críveis e anticíclicas, e destacou que o aumento de crédito direcionado e a incerteza sobre a sustentabilidade da dívida pública têm potencial de fragilizar o controle da inflação.

Opinião: tom hawkish, mesmo que ciclo de alta tenha chegado ao fim

Para o estrategista Gustavo Cruz, da RB Investimentos, a ata do Copom adota um tom mais “hawkish” (duro) em sua comunicação, ainda que o ciclo de alta da Selic tenha chegado ao fim. “Eles estão certos ao manter esse discurso firme, pois ajuda a conter as expectativas inflacionárias. Embora eu não veja espaço para novas altas, também não há qualquer margem para corte neste momento”, afirmou.

Cruz também destacou o foco dado à política tarifária norte-americana como elemento adicional de incerteza global, além da ênfase do comitê nos núcleos de inflação elevados e nas possíveis mudanças estruturais no mercado de crédito com o programa de consignado privado. Para ele, essas sinalizações afastam qualquer expectativa de corte de juros em 2025.

Opinião: ata neutra e próxima reunião será tratada com cautela

Na avaliação de Leonardo Costa, economista da ASA Investments, a ata teve tom neutro em relação ao comunicado anterior, reforçando a estratégia do Banco Central de deixar os juros altos fazerem efeito sobre a economia. Segundo ele, o Copom demonstra confiar que a taxa Selic em patamar restritivo será suficiente para desacelerar a atividade doméstica e conter a inflação ao longo do tempo.

A reunião de junho foi tratada com sinal de ‘cautela adicional’, o que abre espaço para manutenção da Selic ou, no máximo, uma elevação de 0,25 ponto percentual”, afirmou. Para Costa, o cenário base é de fim do ciclo de alta dos juros em maio, com a taxa permanecendo em 14,75% até nova sinalização do Banco Central.

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