Setor de serviços vive cenário crítico com juros altos e baixa produtividade; entenda

O setor de serviços — que engloba comércio, turismo e varejo — enfrenta um dos momentos mais delicados dos últimos anos no Brasil. Apesar do crescimento pontual nas vendas em 2024, os dados mais recentes da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostram queda acentuada na confiança dos empresários, aumento no endividamento das famílias e uma recuperação judicial crescente entre companhias do setor.

Segundo Felipe Tavares, economista-chefe da CNC, entrevistado no programa BM&C Talks, o cenário atual é de forte preocupação. “Temos crescimento de curto prazo sustentado por estímulos artificiais, como o Bolsa Família e emendas parlamentares. Isso não é sustentável. Estamos vendendo o almoço para pagar a janta”, afirmou.

Juros elevados estrangulam o setor de serviços

O impacto da Selic, hoje no maior patamar desde 2015, é devastador para um setor que opera com margens apertadas e alta dependência de capital de giro. “O custo do crédito está pressionando não só consumidores, mas também empresas. O aumento das recuperações judiciais no comércio já é visível”, alertou Tavares.

Com o crédito caro e seletivo, o varejo brasileiro observa retração na intenção de consumo das famílias, queda nas vendas e inadimplência crescente. Hoje, mais de 77% dos brasileiros estão endividados, sendo que 12% não têm perspectiva de pagar suas dívidas, segundo a CNC.

Setor de serviços: falta de produtividade trava a competitividade

Um dos gargalos estruturais apontados por Tavares é a baixa produtividade da mão de obra. Mesmo com o avanço dos anos de escolarização, o sistema educacional brasileiro falha em preparar os trabalhadores para as demandas do mercado.

O problema começa na base. Chegam adultos aos cursos técnicos sem domínio de operações matemáticas básicas. Isso compromete a performance do setor como um todo”, destacou.

Além disso, o setor enfrenta escassez de mão de obra formal, agravada por benefícios sociais que desestimulam o trabalho com carteira assinada em diversas regiões.

Reforma tributária gera insegurança

A CNC também demonstra preocupação com os impactos da reforma tributária. A ausência de uma alíquota definida para o novo modelo de IVA, aliada à complexidade da transição e à falta de infraestrutura digital, gera um ambiente de incerteza. “A transição vai durar dez anos e deve ser marcada por judicialização intensa e insegurança jurídica”, alertou Tavares.

Para ele, o problema é ainda mais grave no varejo, onde 98% das empresas são micro ou pequenas e não estão preparadas para operar com dois sistemas tributários simultaneamente.

Turismo: gigante adormecido

Apesar do potencial turístico do Brasil, o setor continua aquém do seu desempenho ideal. Em 2023, o país recebeu cerca de 6 milhões de visitantes estrangeiros, número ainda distante de destinos comparáveis. A CNC estima que o país perde até US$ 2,9 bilhões por ano por não explorar adequadamente o setor.

O Brasil tem o turismo como uma chave para o desenvolvimento regional e social, mas falta o básico: infraestrutura, segurança e competitividade no setor aéreo”, avaliou Tavares.

Caminhos para destravar o setor de serviços

Para o economista, a recuperação do setor de serviços exige políticas públicas voltadas para:

  • Redução do custo do crédito
  • Incentivo à formalização do trabalho
  • Educação de base com foco em produtividade
  • Reforma tributária simplificada e equitativa
  • Apoio à infraestrutura e segurança para o turismo

O Brasil precisa abandonar soluções paliativas e atacar os problemas estruturais. Do contrário, seguiremos presos ao ciclo de crescimento insustentável”, concluiu.

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