Psiquiatra alerta: “Vício em jogo é tão prejudicial quanto substância química”

Especialistas alertam que vícios em jogos e celulares ativam os mesmos mecanismos cerebrais que drogas

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Imagem ilustrativa/Canva

Não são apenas os vícios em drogas e álcool que têm preocupado médicos e psicólogos. O cenário de dependência em jogos e celulares já é considerado por especialistas como alarmante. “Vícios comportamentais, como jogos ou uso excessivo de celulares, podem ser tão prejudiciais quanto o de substâncias químicas. Ambos ativam áreas do cérebro relacionadas ao prazer e à recompensa, levando à dependência”, alerta a psiquiatra Letícia Mameri, diretora da Associação Psiquiátrica do Espírito Santo (Apes).

Letícia Mameri explica que os danos podem incluir isolamento social, prejuízos financeiros e ansiedade

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Kadidja Fernandes/AT

Os danos, segundo a médica, podem incluir isolamento social, prejuízos financeiros, ansiedade, depressão e até problemas físicos, como insônia ou sedentarismo.A psicóloga Luiza Bazoni explica que, embora os mecanismos sejam diferentes, os efeitos do vício no cérebro e na vida da pessoa podem ser igualmente devastadores, sejam eles em substâncias ou comportamental. “Ambos ativam os mesmos circuitos cerebrais; disparam o sistema de recompensa e dopamina, o que gera prazer. Com isso, o cérebro começa a precisar daquele estímulo para sentir prazer ou aliviar dor, o que pode levar à compulsão”.De acordo com Luiza, o problema é que muitas vezes os vícios comportamentais são confundidos com “hábito ruim” ou “falta de disciplina”, atrasando o diagnóstico e o tratamento. “O fato de não envolverem drogas não torna os vícios comportamentais menos graves”. O psiquiatra Valber Dias Pinto analisa que durante muito tempo jogos eram proibidos, mas sempre existiu o potencial de causar vício, assim como agora existe o mesmo risco com os celulares e as redes sociais. “Os algoritmos são estruturados de maneira a nos oferecer algo que gostamos e fazemos uso repetidamente, ativando assim o sistema de recompensa”. O psiquiatra Frankson Fonte Boa, membro da Apes, chama atenção para o fato de que os dependentes em jogos tendem a terceirizar a culpa e costumam se vitimizar. “As famílias hoje têm mais facilidade de ter ‘tudo’. A nova geração não sabe lidar com a frustração. Os pais acreditam que sofreram muito e não querem o mesmo para os filhos. Os pais cada vez mais blindam os filhos. E quando esses meninos se frustram, apresentam quadros ansiosos e depressivos”.

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