Rebaixamento dos EUA expõe fragilidade fiscal e riscos na política econômica

O recente rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos pelas principais agências de classificação de risco reacendeu preocupações não apenas com o cenário fiscal americano, mas também com os rumos da política econômica de Donald Trump. A avaliação é do economista VanDyck Silveira, que alerta para os efeitos das tarifas impostas durante o governo Trump e os desafios para financiar políticas públicas sem desorganizar o sistema global.

Apareceu a luz amarela”, disse Silveira. “A política econômica do Trump, principalmente com as tarifas, onera demasiadamente a estrutura fiscal e pressionava ainda mais a inflação”.

Fiscal no radar: tarifas atuam como barreiras e encarecem o consumo

Silveira explicou que a imposição de tarifas elevadas — como a anunciada tarifa de 145% sobre certos produtos — funciona como um embargo comercial. “Você trava o fluxo global de bens e serviços. É como apertar uma mangueira. O mercado se desorganiza, e o preço dos produtos sobe”, afirmou.

Segundo ele, esse tipo de barreira afeta diretamente a classe média americana, que é financiada indiretamente por produtos importados mais baratos. “O consumo nos EUA depende de produtos acessíveis. Quando isso muda, o mercado desacelera”, disse. O impacto também foi percebido no PIB: o crescimento foi afetado pela redução nas importações, que haviam sido antecipadas por consumidores e empresas temendo novos aumentos de tarifas.

As incertezas criadas por esse cenário, somadas à política fiscal expansionista e à elevada dívida pública dos EUA, levaram ao aumento dos juros de longo prazo nos títulos do Tesouro americano.

Qualquer aumento na taxa de juros é problemático para um país com 122% do PIB em dívida. O problema não é rolar a dívida, é rolar com uma taxa sustentável por 10, 30 anos”, destacou Silveira.

Atualmente, os EUA pagam mais de 5% em seus títulos de 30 anos, percentual acima de economias como Canadá (3,49%), Finlândia (3,51%) e Irlanda (2,88%). “Os Estados Unidos só perdem para o Reino Unido entre os países com rating A. Isso mostra que a dívida americana já não é considerada sustentável pelas agências de risco”, afirmou.

Investimento comprometido e futuro em xeque

O economista ressalta que, com o custo da dívida em alta, os investimentos de longo prazo nos EUA estão sendo comprometidos. “Se não há investimento, não há crescimento futuro. O investimento é o presente do amanhã”, disse. Ele alertou que o atual patamar da taxa de investimento nos Estados Unidos, embora superior ao brasileiro, está ameaçado.

Os EUA investem cerca de 25% do PIB. O Brasil mal chega a 16%. Mas mesmo essa taxa americana está em risco com essa política econômica instável”, afirmou.

Equilíbrio fiscal e previsibilidade são fundamentais

Para Silveira, o desafio agora está em recuperar credibilidade fiscal, reduzir o prêmio de risco e oferecer previsibilidade ao mercado. Sem isso, o custo de manter o status de maior economia do mundo pode se tornar insustentável. “O que está em jogo é a viabilidade do próprio modelo americano como motor de consumo global”, concluiu.

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