Como o automobilismo encontrou em séries e filmes um jeito de sobreviver e se reinventar

Nem só de asfalto, curvas e pneus vive a Fórmula 1. Os pilotos da principal categoria do automobilismo mundial convivem cada vez mais com redes sociais, microfones e câmeras, muitas câmeras, dentro e fora dos paddocks. O fenômeno Drive To Survive estimulou uma nova tendência e agora as próprias escuderias criaram suas equipes de produção de vídeo para ganhar influência nas plataformas de comunicação.O caso mais recente é o documentário The Seat, produção liderada pela equipe Mercedes em parceria com a agência americana Modern Arts. A obra destrincha o processo de escolha do substituto de Lewis Hamilton. O protagonista, claro, é o jovem italiano Kimi Antonelli, o “vencedor” da disputa para herdar o assento do britânico heptacampeão mundial.

O documentário também foi lançado pela Netflix, a exemplo de Drive To Survive, a badalada série que conta os bastidores da F-1. Personagem na série, a Mercedes vem se tornando uma das pioneiras em produções próprias. Antes da obra sobre Antonelli, lançada neste mês, o time alemão soltou Push Push, sobre Hamilton. O curto documentário, de apenas 11 minutos de duração, tem caráter de teste para produções maiores, como a encabeçada pelo substituto do inglês na Mercedes. Antes, entre outras produções, Fernando contava os bastidores do retorno do bicampeão mundial Fernando Alonso ao grid da F-1, em 2020. Neste ano, a própria F-1 produziu Rookies (Novatos, em tradução livre) sobre os jovens pilotos da categoria, como o brasileiro Gabriel Bortoleto. No dia 26 de junho, chega aos cinemas brasileiros o filme F1, que tem Brad Pitt como grande estrela e Hamilton como um dos coprodutores. Em 2024, um dos maiores sucessos da Netflix foi a série sobre Ayrton Senna, que se tornou uma das mais vistas de todo o ano.O fenômeno das séries e filmes não atinge apenas a Fórmula 1, outras categorias também estão utilizando ferramentas audiovisuais para alcançar novos públicos e dialogar com a geração nascida depois dos anos 2000. A Fórmula E lançou no Prime Video, serviço de streaming da Amazon, Driver, série com enfoque sobre quatro pilotos do campeonato de carros elétricos. Nos últimos anos, 100 days to Indy foi uma das apostas da Indy nos EUA mostrando a preparação para as tradicionais 500 milhas de Indianápolis.“Hoje, no paddock, quando um piloto está andando, tem duas ou três câmeras o filmando. E normalmente são câmeras da própria equipe, produzindo conteúdo para rede social, comentários. E, com a facilidade de distribuição, você tem o streaming para passar isso no mundo inteiro”, comenta o jornalista Rodrigo França, que tem longa trajetória na cobertura da F-1. “As equipes perceberam que não precisam mais esperar até o fim do ano para conhecer o seu episódio na nova temporada do Drive To Survive. Elas mesmas podem fazer isso.”
Os documentários inspirados em Drive To Survive, série que estreou em março de 2019 e já conta com sete temporadas, também ampliam as fontes de renda para os 10 times do grid atual. “Outras produções enxergaram o enorme potencial da produção em aproximar o fã e monetizar através de diversas formas, inclusive através do patrocínio dos documentários”, afirma Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo.Documentário virou a nova propaganda?No caso da Mercedes, as obras protagonizadas por Hamilton e Antonelli contaram com o patrocínio do Whatsapp, um dos apoiadores da equipe ao longo da temporada. Outras empresas de tecnologia e comunicação, como TikTok, Amazon, Snapchat e YouTube, também estão se ligando aos times da F-1 nos últimos anos.

O patrocínio e a presença escancarada de marcas nestas obras audiovisuais no mundo da F-1 geram até um questionamento: o documentário estaria se tornando a nova propaganda?“O documentário virou propaganda inteligente: em vez de vender o carro, mostra o piloto. A F-1 entendeu que histórias humanas conectam muito além da velocidade e são elas que atraem novos fãs”, explica Ivan Martinho, professor de marketing esportivo pela ESPM.

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