Tarifas de Trump e os efeitos colaterais na economia americana

Até agora, o que se vê na economia americana sob a condução tarifária imposta pelo presidente Donald Trump é, na prática, um tiro no pé. A estratégia de elevar tarifas — que voltou a ganhar força no atual ciclo político — pretendia proteger a indústria nacional e conter pressões inflacionárias importadas, mas os efeitos colaterais começam a se manifestar de forma mais evidente.

Apesar de algum arrefecimento na inflação desde o pico pós-pandemia, o processo de desinflação nos Estados Unidos segue lento e desigual. O aumento no custo de importação, somado à alta nos juros promovida pelo Federal Reserve, pressiona as empresas, que agora apertam seus orçamentos e começam a cortar custos — inclusive com mão de obra.

O mercado de trabalho, que até então era um dos pilares da resiliência econômica americana, começa a dar sinais de fadiga. Um aumento no desemprego já aparece no radar de muitos analistas, e o cenário de uma recessão leve — ou “soft landing” com turbulência — não pode ser descartado.

Em paralelo, o dólar perde força global. A combinação de uma política monetária mais prudente, aliada à incerteza em torno das tarifas e de sua eficácia, abre espaço para moedas emergentes ganharem fôlego — inclusive o real. Isso acontece mesmo em um contexto em que o Brasil enfrenta um buraco fiscal crescente, com capacidade cada vez mais limitada de fechar as contas públicas.

O movimento do câmbio, portanto, reflete não apenas os problemas locais, mas uma reconfiguração do apetite ao risco global, que começa a penalizar a incerteza vinda da própria potência americana. A retórica protecionista, ao invés de fortalecer a posição externa dos Estados Unidos, pode estar contribuindo para seu enfraquecimento relativo.

Se as tarifas foram pensadas como uma ferramenta de fortalecimento, os dados mais recentes indicam que o impacto pode ser exatamente o contrário: menor crescimento, aumento do desemprego e perda de competitividade. Um alerta para os riscos de políticas econômicas guiadas mais por agendas eleitorais do que por fundamentos sustentáveis.

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