Governos são o empecilho no combate à erradicação da pobreza

PescadorIA

Considere uma debênture para erradicação da pobreza, pagando 12% ao ano em dólares por 20 anos. Com esse retorno, captar de 10 a 100 bilhões de dólares nos mercados internacionais por uma instituição renomada seria questão de vontade — e não de possibilidade. Esse capital poderia ser direcionado para a construção das ZEPAs (Zonas de Erradicação de Pobreza Acelerada), ou, em termos populares, Cidades 5.0: cidades privadas projetadas para impulsionar sua população carente a um elevado patamar socioeconômico. 

Governos tendem a monopolizar o combate à pobreza, definindo-o como parte inerente de sua atribuição. Dessa forma, aumentam a arrecadação de tributos da população em geral, justificados por uma suposta falha do livre mercado, para então distribuir os recursos de maneira “mais justa”. No entanto, os governos costumam apresentar uma espécie de mutação em seu DNA, que acaba introduzindo uma certa esquizofrenia ao processo. O mercado de capitais tem como principal incentivo o próprio enriquecimento, levando-o a adotar todas as medidas necessárias para garantir uma gestão de riscos competente, assegurando assim a viabilidade e a sustentabilidade econômica de seus projetos — ao contrário do que frequentemente ocorre nos governos.

Na cidade 5.0, o mais importante é a escolha do local. A falta de acesso à água potável, as dificuldades para conexão à rede elétrica ou a ausência de logística para receber insumos e escoar a produção tornariam o empreendimento pouco atrativo para a iniciativa privada. Sua população seria composta majoritariamente por migrantes, selecionados com base na qualidade do capital humano — da mesma forma que empresas privadas escolhem seus colaboradores, visando minimizar a exposição a incertezas e maximizar os ganhos financeiros. Nenhuma dessas práticas poderia ser implementada por um governo democrático sem que surgissem sérias acusações de violações éticas e constitucionais, o que os leva à má alocação da capital e ao desperdício de recursos – começando pelo investimento em regiões fadadas ao fracasso. 

A cidade 5.0 nasce em um greenfield e é composta por subcidades ou comunidades 5.0, cada uma delas autônoma, com cerca de dez mil habitantes, uma empresa âncora e seus fornecedores. Juntos, criam um ecossistema que gera demanda por trabalhadores e funciona como a máquina de geração de riqueza dessa zona econômica especial. Essa estrutura é fundamental, pois o sucesso da primeira comunidade eleva o valor do terreno, viabilizando o investimento necessário para o desenvolvimento das próximas subcidades. A lógica financeira da iniciativa privada, pautada pelo retorno sobre o investimento e a sustentabilidade econômica, costuma ser substituída, nos projetos governamentais, por anseios políticos voltados para benefícios eleitorais de curto prazo, em detrimento do bem-estar social de médio e longo prazo.

O vício pela distribuição de riqueza com fins políticos leva governos a adotarem políticas que priorizam o alívio da pobreza, em vez de sua erradicação. Isso cria uma relação de dependência e um ciclo de vício mútuo entre quem concede os benefícios e quem os recebe, perpetuando a situação. Em vez de buscar soluções definitivas como a Cidade 5.0, que atacam as causas estruturais da pobreza e promovem a independência dos indivíduos, perpetuam-se medidas paliativas que garantem a manutenção do status quo. 

Os processos industriais responsáveis pela expressiva redução dos preços de produtos como computadores, televisores e painéis solares ao consumidor final nas últimas décadas devem servir de modelo para o ambiente da cidade 5.0. O objetivo é que a trajetória de superação da pobreza seja igualmente marcada por uma redução significativa de custos e riscos. 

Entretanto, governos, em geral, não se destacam nesse tipo de transformação, principalmente devido à rigidez na alteração de leis, à dificuldade de realocação de pessoas, à burocracia excessiva, à lentidão na adoção de novas tecnologias e aos frequentes conflitos de interesse de natureza política. Replicar o dinamismo, a eficiência e a orientação para resultados do setor privado, responsáveis pela democratização do acesso a produtos tecnológicos, é o caminho mais eficaz para promover a inclusão social e econômica de forma sustentável.

No entanto, como demonstram inúmeros casos de fraude no setor privado — como Wirecard, Theranos e FTX —, não podemos ser ingênuos ao supor que esse ambiente estará livre de tentativas de abuso. Para mitigar tais riscos, surge a PRIME Society: uma federação privada e sem fins lucrativos dedicada à regulação desse mercado emergente. A PRIME Society tem como missão estabelecer padrões claros para definir o que caracteriza uma cidade 5.0, além de determinar critérios sobre seu financiamento, construção, operação e auditoria. 

Mais do que isso, é fundamental organizar e articular todo o ecossistema envolvido — incluindo prefeituras, governos estaduais e federais, legislativo, executivo, organizações não governamentais, investidores, construtoras, operadoras, empresas de educação, saúde, segurança pública, academia, voluntários, entre outros. Assim, busca-se assegurar transparência, governança e responsabilidade, promovendo um ambiente propício ao desenvolvimento sustentável e ético das Cidades 5.0.

É fundamental assegurar que os operadores dessas cidades estejam sujeitos a critérios meritocráticos — algo frequentemente inviável no setor público tradicional, mas que constitui prática comum no ambiente corporativo. A padronização e a divulgação de relatórios, inspiradas nos moldes das empresas listadas em bolsa, permitirão aos investidores realizar uma alocação de capital mais eficiente, direcionando recursos para iniciativas de alto desempenho e penalizando a mediocridade. 

Isso contrasta fortemente com o cenário político atual, em que gestores públicos incompetentes continuam a receber recursos provenientes de impostos sem que a sociedade tenha mecanismos eficazes para realocá-los. Ademais, a adoção de uma gestão científica, baseada em dados empíricos e evidências, em oposição a sistemas orientados por ideologias partidárias, tem o potencial de maximizar o retorno social e promover resultados mais consistentes e sustentáveis.

Em vez de depender de doações e investimentos a fundo perdido, propomos a construção de uma cultura na qual todo aquele que investe seu capital para promover a ascensão das pessoas mais humildes seja devidamente remunerado por sua coragem e visão. Esse novo paradigma transforma a filantropia tradicional em uma alavanca de desenvolvimento sustentável, alinhando incentivos e recompensas. 

Você pode começar hoje mesmo: apoiando financeiramente ou atuando como voluntário na PRIME Society; votando apenas em políticos que publicamente endossem nossa visão de futuro; pressionando o Legislativo para aprovar leis que ofereçam absoluta segurança jurídica a investidores em Cidades 5.0; estimulando o Executivo a nos procurar para implementar essas cidades em suas regiões; e convidando empresas, ONGs e investidores a se tornarem membros desse movimento transformador. 

Para concluir, é fundamental compreender o papel central do governo como obstáculo à erradicação completa e sustentável da pobreza. Hoje, mais de 40% dos custos totais de implantação e operação de uma Cidade 5.0 decorrem de tributos, burocracias, encargos financeiros, juros e inflação. Além disso, o maior risco percebido pelos investidores está relacionado à insegurança jurídica e à desvalorização da moeda — fatores que são fundamentalmente de responsabilidade dos próprios governos. 

Esses entraves não apenas aumentam significativamente o custo dos projetos inovadores, como também desestimulam a alocação de capital e a geração de prosperidade. Portanto, qualquer estratégia séria para erradicar a pobreza precisa enfrentar, de forma corajosa e inovadora, as limitações impostas pelo aparato estatal e criar ambientes onde o desenvolvimento seja possível, sustentável e seguro para todos os envolvidos.

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Prime Society realizará o evento “Cidade 5.0 – Quando a Erradicação da Pobreza é um Bom Negócio” nas principais capitais do país, com o objetivo de iniciar uma transformação concreta e buscar soluções eficazes para um problema que assombra o Brasil há séculos. Participe e faça parte dessa mudança!

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG

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