Governo erra ao tributar LCIs e LCAs? Especialistas divergem sobre impacto fiscal e econômico

A decisão do governo federal de acabar com a isenção de imposto de renda para os rendimentos de LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) reacendeu o debate sobre incentivos fiscais, eficiência arrecadatória e os impactos no mercado de capitais. A proposta, anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prevê a criação de uma alíquota única de 5% sobre os rendimentos desses títulos, hoje isentos.

A medida integra o pacote de compensações elaborado após a revogação do decreto que elevaria o IOF sobre operações de câmbio, e tem claro objetivo arrecadatório. Para especialistas ouvidos pela BM&C News a discussão vai além da arrecadação: envolve o futuro do crédito direcionado e o equilíbrio de incentivos entre os ativos disponíveis ao investidor.

Especialistas veem riscos e equilíbrio

Para o advogado tributarista Leonardo Aguirra de Andrade, sócio do escritório Andrade Maia Advogados, a nova alíquota pode diminuir a atratividade das LCIs e LCAs, mas não a ponto de afastar completamente o investidor. “O título ainda será fiscalmente vantajoso frente a outros ativos tributados entre 15% e 22,5%”, afirmou. Segundo ele, o investidor pessoa física pode reconsiderar suas escolhas, mas a mudança não tira o apelo desses papéis.

A visão é compartilhada em parte por Henrique Mello, sócio do HM Law, que destaca que a isenção era um diferencial claro para as letras de crédito. “Com a incidência de 5% no resgate, há um reposicionamento no mercado, e isso pode forçar uma reacomodação nas taxas oferecidas pelas instituições emissoras”, explicou. No entanto, ele ressalta que a medida só valerá para novos títulos emitidos e que, até aqui, não há texto legal formalizando a mudança.

“Qualquer movimentação no mercado neste momento seria precipitada. É preciso aguardar a regulamentação e avaliar em conjunto com outras possíveis alterações em ativos de renda fixa”, orienta Mello.

ANBIMA vê coerência, mas critica foco arrecadatório

A ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) divulgou nota institucional na qual afirma que a tributação das LCIs e LCAs está alinhada com uma defesa histórica da entidade pela redução das assimetrias entre produtos financeiros. Contudo, a associação pontua que as medidas têm caráter arrecadatório e de curto prazo, e não atacam as causas estruturais do desequilíbrio fiscal brasileiro.

Segundo a nota, “é necessário abrir o debate sobre equilíbrio fiscal com ações coordenadas de curto, médio e longo prazos”, defendendo maior eficiência na arrecadação e melhor gestão dos gastos públicos.

Impacto real ainda depende do comportamento do investidor

Apesar das incertezas, o movimento sinaliza uma mudança no regime de incentivos, que pode provocar ajustes nas taxas de remuneração desses títulos — principalmente se a demanda por LCI e LCA cair. Uma consequência possível seria o encarecimento do crédito no setor imobiliário e no agronegócio, já que essas letras são base de funding para operações nesses segmentos.

A proposta do governo busca atender a um objetivo claro de reforço de caixa, mas o debate técnico sobre seus efeitos colaterais está longe de ser unânime. Enquanto a ANBIMA alerta para o risco de medidas pontuais sem planejamento estrutural, tributaristas reconhecem a legitimidade da mudança, mas pedem cautela e análise de longo prazo.

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