Banco Central estuda alternativa à poupança para financiar casa própria

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta terça-feira (10) que a instituição estuda uma nova estrutura de financiamento para a casa própria, diante da perda de força da caderneta de poupança como principal fonte de crédito imobiliário no país.”Temos uma queda estrutural, real e nominal, na caderneta de poupança, que é o principal funding do financiamento imobiliário”, disse Galípolo durante a Febraban Tech 2025, evento de inovação e tecnologia do setor financeiro, que acontece no Expo Transamérica, na zona sul de São Paulo.”A poupança paga uma remuneração que é difícil de competir com as alternativas que existem hoje. Essa redução me parece natural”, afirmou.Para Galípolo, o cenário impõe ao Banco Central e ao sistema financeiro a criação de alternativas. “Estamos trabalhando nisso há um tempo, conversando com parceiros relevantes no financiamento habitacional, como a Caixa”, afirmou.Segundo ele, esse novo modelo de financiamento utilizará captação no mercado financeiro. O presidente, porém, não deu mais detalhes.Em resposta, o presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Vieira, afirmou que o banco público atua como executor das diretrizes definidas pelas autoridades reguladoras. “A Caixa é usuária daquilo que é definido. As circulares, as resoluções dos órgãos reguladores guiam a forma como a Caixa deve atuar”, disse Vieira. Ainda assim, ele confirmou que há diálogo com o BC sobre “operações mais estruturantes” no crédito imobiliário.Desde o ano passado, a Caixa pressiona o governo federal por alternativas para financiar a casa própria. Uma das sugestões é a liberação dos depósitos compulsórios dos bancos para driblar a possível falta de recursos para a concessão de financiamento imobiliário.Hoje, o Banco Central exige o recolhimento compulsório de 20% sobre os recursos de depósitos de poupança. A ideia da Caixa é que passe a ser de 15%. Segundo o presidente do banco, com a liberação desse percentual obrigatório seriam destravados entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões para financiamento imobiliário.Com o esgotamento da poupança como fonte estável de recursos para o setor, outros instrumentos passaram a ganhar relevância. As LCIs (Letras de Crédito Imobiliário), por exemplo, já lideram o crédito para moradia e somam atualmente R$ 427 bilhões em estoque, segundo dados da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias).No entanto, o fim da isenção de Imposto de Renda sobre esses papéis —proposto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para aumentar a arrecadação federal— pode elevar em até 0,7% o custo do crédito atrelado ao SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), de acordo com a associação.A preocupação com o encarecimento do crédito é crescente entre incorporadoras e bancos. A expectativa do setor é que a reformulação no modelo de funding possa preservar o acesso ao financiamento imobiliário com taxas sustentáveis, especialmente para a classe média, principal usuária do SBPE.De acordo com Pesquisa Indicador de Confiança do Setor Imobiliário Residencial, da Abrainc, realizada em parceria com a Deloitte e divulgada nesta terça, apesar dos altos índices de saque da poupança nos últimos meses, e do aumento na taxa de financiamento habitacional no segmento de médio padrão, a intenção de compra de imóveis em geral segue em bom patamar.As expectativas sobre as vendas neste segmento ficaram em 1,69 ponto, o que significa queda de 0,09 pontos no primeiro trimestre deste ano em relação ao trimestre anterior.Segundo Claudia Baggio, sócia de Financial Advisory e líder da prática de Real Estate da Deloitte, a desaceleração da performance do segmento está relacionada principalmente à alta taxa de juros. “Os compradores estão mais receosos quanto aos investimentos diante da taxa de juros mais alta, e consequentemente do financiamento mais caro”, disse.A expectativa do setor é que a entrada da classe média na nova faixa do Minha Casa, Minha Vida impulsione as cadeias de negócios da construção civil e do mercado imobiliário.No evento desta terça, Galípolo também falou dos próximos passos do Pix, com o Pix automático, Pix parcelado e Pix garantido.”O Pix parcelado, que nós pretendemos lançar nos próximos meses, vai permitir o parcelamento de uma transação via Pix para o comprador com recebimento imediato para o vendedor. Isso vai estimular o uso do Pix no varejo, especialmente nas compras de valor mais elevado”, disse o presidente do BC.Segundo ele, isso vai dar mais ferramentas financeiras aos 60 milhões de brasileiros que não tem cartão de crédito.No início de sua fala, Galípolo se desculpou pelo atraso do evento. Segundo ele, o trajeto entre a sede do Banco Cenntral em São Paulo, na Av. Paulista, e o Transamerica Expo Center levou duas horas.”Vocês veem que, apesar de todo o avanço na tecnologia que nós temos hoje, as projeções dos economistas e dos aplicativos de trânsito ainda têm espaço para algum tipo de aperfeiçoamento”, brincou o economista.
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