Pedido de desocupação de teatro gera crise entre cultura e prefeito de São Paulo

Alesp e crise entre cultura e prefeito de São Paulo

Alesp recebeu audiência pública sobre o tema, em crise entre cultura e prefeito de São Paulo – Foto: Larissa Navarro/Alesp/ND

O pedido de desocupação da área do teatro de Contêiner Mungunzá, na região central de São Paulo, gerou uma crise entre cultura e prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que recebeu, inclusive, uma carta da atriz Fernanda Montenegro. A companhia teatral defende a permanência no local.

O teatro fica na região da rua dos Gusmões, no bairro Santa Efigênia, ao lado da rua dos Protestantes, um dos antigos pontos do fluxo da Cracolândia, que foi esvaziada no mês passado. A prefeitura alega que a área faz parte do projeto de revitalização da região central, com construção de conjunto habitacional à população de baixa renda e área de lazer.

“Para isso, o projeto prevê a demolição de um prédio deteriorado e a transferência da sede do Teatro Mungunzá naquela região”, diz comunicado do município. O mesmo texto afirma que a prefeitura oferece um imóvel na rua Conselheiro Furtado, a cerca de 150 metros da Praça da Sé.

“No nosso primeiro encontro falamos que não cabe o teatro naquele espaço [oferecido pela prefeitura]. Ele [o prefeito] fala que o teatro tem 290 metros quadrados, mas, na realidade, tem 2,9 mil. Não sei se eles esqueceram de um zero, ou alguma coisa do tipo. Então é impossível caber o teatro de contêiner naquele espaço”, afirma Lucas Beda, gestor do teatro e um dos fundadores da companhia.

Em nove anos, o local recebeu mais de 4 mil ações artísticas e é um dos principais pontos culturais de São Paulo. “Aqui era um terreno sem uso do estado, não tinha nada, tinha um lixo, enfim. Nós ocupamos o terreno e fizemos uma destinação pública do espaço”, recorda Beda.

Crise entre cultura e prefeito

A notificação da prefeitura, que deu 15 dias para a saída do grupo, em prazo que venceu nesta quarta-feira (11), criou uma crise entre cultura e prefeito. Na segunda-feira (9), a Alesp (Assembleia Legislativa) recebeu uma audiência pública em defesa da permanência do teatro de contêiner.

O encontro, promovido pelo deputado estadual Carlos Giannazi (Psol), contou com a participação do deputado estadual Eduardo Suplicy (PT), do artista Marcos Felipe, outro gestor do teatro, além de artistas e manifestantes.

Vencedora do Globo de Ouro e indicada ao Oscar de Melhor Atriz por “Central do Brasil”, e parte do elenco do premiado “Ainda Estou Aqui”, Fernanda Montenegro também entrou na crise entre cultura e prefeito. Ela publicou nas redes sociais uma carta pública ao Ricardo Nunes.

“O ‘Teatro de Contêiner Mungunzá’, permanecendo nesse endereço na cidade de São Paulo, é um sinal de renascimento desse bairro. Um espaço de comunhão humana”, diz trecho da carta. Ricardo Nunes respondeu à artista, por meio do secretário de Governo, Edson Aparecido: “Governo do Estado e Prefeitura ofereceram locais para instalação do Teatro com doação de área definitiva. As negociações continuam.”

‘Não existe nada de querer acabar com o teatro’, defende prefeito

A prefeitura segue defendendo que o terreno na região da Sé, a 2,4 km do endereço atual, é a melhor opção, e que tem projeto pronto para a antiga região da Cracolândia.

“Fica do ladinho do Tribunal de Justiça, da Praça da Sé, numa área central e, inclusive, nessa avenida passa ônibus, e as pessoas que vão até o teatro vão poder ir de ônibus. Onde eles estão hoje, o acesso é ruim”, alegou Ricardo Nunes.

Em comunicado, a prefeitura afirma ter feito “uma série de reuniões” com o grupo neste ano e nega querer prejudicar a companhia. “Só para esse teatro, só na nossa gestão, nós passamos para eles de incentivo, de aporte, de apoio, R$ 2.576.300,60. Portanto, o apoio total da Prefeitura de incentivo à cultura, não existe nada de querer acabar com o teatro, pelo contrário”, disse o prefeito.

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