A história por trás do prédio de quase 7 décadas que prefeitura tentou desapropriar em SC

Fachada do prédio que prefeitura tentou desapropriar em SC

A história por trás do prédio que prefeitura tentou desapropriar em SC – Foto: Arquivo/ND

O prédio onde funciona o Colégio Cenecista São José, em Rio Negrinho, no Planalto Norte catarinense, voltou ao centro do debate público após a Justiça anular a tentativa da prefeitura de desapropriá-lo.

Mais do que o impasse jurídico, a construção chama atenção pela estrutura: um mesmo edifício concentra, há quase sete décadas, diversas etapas da educação — do infantil ao técnico — além de espaços esportivos e culturais.

A origem da escola remonta à década de 1940, quando, ainda em uma cidade pequena e marcada por forte presença religiosa, o então pároco local articulou com uma congregação de irmãs em Curitiba o início das aulas. Na época, elas ensinavam em uma casa modesta de madeira.

Com a doação de um terreno por Carlos Weber, foi inaugurado em 1952 o Educandário Santa Terezinha, primeiro nome da instituição.

A demanda por ensino cresceu nas décadas seguintes, acompanhando a urbanização da cidade. Em 1957, surgiu a unidade local da CNEC (Campanha Nacional de Escolas da Comunidade), que resultou na criação do Ginásio São José.

Em 1977, a fusão entre os diferentes níveis de ensino foi formalizada por decreto federal, consolidando o Colégio Cenecista São José.

Durante os anos 1960 e 1970, o prédio foi ampliado e passou a abrigar também uma escola técnica e o primeiro ginásio poliesportivo da cidade. A estrutura se manteve ativa desde então, ofertando cursos em áreas como contabilidade, administração, segurança do trabalho e técnico em enfermagem. A unidade chegou a sediar uma fanfarra que representou o Brasil no exterior.

Mesmo com a ampliação da rede pública e privada na região, o prédio manteve sua função educacional até os dias atuais. A tentativa de desapropriação da área, feita pela prefeitura no início de 2024, foi anulada pela Justiça por falta de respaldo legal.

Veja fotos do prédio que prefeitura tentou desapropriar


Ginásio Coronel Osni Vasconcellos, primeiro de Rio Negrinho - Arquivo/ND

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Ginásio Coronel Osni Vasconcellos, primeiro de Rio Negrinho – Arquivo/ND


Entrada principal do colégio, marco da educação em Rio Negrinho desde 1947 - Arquivo/ND

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Entrada principal do colégio, marco da educação em Rio Negrinho desde 1947 – Arquivo/ND


Escola promoveu um abraço contra medidas da prefeitura  - Arquivo/ND

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Escola promoveu um abraço contra medidas da prefeitura – Arquivo/ND


Cursos técnicos oferecidos marcam a história do colégio  - Arquivo/ND

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Cursos técnicos oferecidos marcam a história do colégio – Arquivo/ND


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Educandário Santa Terezinha - Arquivo/ND

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Educandário Santa Terezinha – Arquivo/ND


Quando colégio começou a ser construído  - Arquivo/ND

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Quando colégio começou a ser construído – Arquivo/ND


Durante os anos 1960 e 1970, o prédio foi ampliado e passou a abrigar também uma escola técnica - Arquivo/ND

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Durante os anos 1960 e 1970, o prédio foi ampliado e passou a abrigar também uma escola técnica – Arquivo/ND

A decisão reacendeu o debate sobre o papel de instituições privadas com função social consolidada em espaços urbanos e históricos. Para parte da comunidade, o colégio é um marco arquitetônico e educacional da cidade. Para o município, a localização do imóvel, em área central, seria estratégica para novos projetos públicos.

Relembre o caso

A Justiça de Santa Catarina anulou dois decretos, de fevereiro, da Prefeitura de Rio Negrinho, no Planalto Norte, que visavam à desapropriação do imóvel onde funciona o Colégio Cenecista São José. A decisão da 2ª Vara da comarca considerou os atos ilegais e com desvio de finalidade.

Segundo a sentença assinada pelo juiz Rodrigo Climaco José, os decretos violam o artigo 2º, §§ 2º e 3º, do Decreto-Lei 3.365/41, por desrespeitarem regras específicas sobre desapropriação, como a exigência de autorização prévia do governo federal para intervir em instituições sob sua fiscalização.

“O Município não considerou a necessidade de ter a prévia autorização do Governo Federal”, escreveu o magistrado. Para ele, o ato também desrespeita o princípio da coexistência entre instituições públicas e privadas de ensino.

Risco de fechamento da escola pesou na decisão

A Justiça entendeu que a desapropriação, além de ilegal, poderia levar ao fechamento da escola, prejudicando mais de 100 estudantes e desrespeitando o equilíbrio entre redes pública e privada de ensino.

Prefeitura alegou subutilização e interesse público

A prefeitura havia declarado o imóvel como de utilidade pública em fevereiro, alegando que a unidade estaria subutilizada e que a estrutura, localizada no Centro da cidade, poderia abrigar uma nova escola da rede municipal, com foco na ampliação do ensino integral.

Segundo o prefeito Caio Treml (PL), o prédio foi construído com apoio dos moradores na década de 1950 e hoje funciona com menos de 10% da capacidade.

A administração municipal também citou dificuldades financeiras da instituição e afirmou que os alunos poderiam concluir o ano letivo de 2025 antes de um eventual remanejamento.

Faltaram estudos e comprovações, aponta juiz

A Justiça, no entanto, apontou falta de comprovação quanto à necessidade da medida. Segundo a sentença, não houve, por exemplo, apresentação de estudos sobre a demanda por vagas no centro da cidade, nem provas de que outros imóveis foram considerados antes da escolha pelo prédio do colégio.

“Se o Município for desapropriar cada local na cidade que passa por dificuldade financeira, não haveria mais dinheiro para prestar qualquer serviço público”, registrou o juiz.

A decisão menciona ainda que a proposta municipal poderia ter como efeito prático o encerramento das atividades do colégio, tendo em vista a dificuldade da instituição em encontrar outro imóvel com a estrutura necessária e local adequado.

“Logo, estar-se-á priorizando o ensino público em detrimento do ensino privado. Na verdade, é praticamente uma estatização que o Município tenta realizar”, criticou o magistrado.

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