
Ação por danos morais, materiais e pensão alimentícia é movida contra o influenciador digital Vítor Belarmino, réu pelo homicídio de Fábio Toshiro. Fábio Toshiro Kikuta (à esq.) morreu atropelado após sair da festa de casamento; influencer Vitor Vieira Belarmino (à dir.) teve prisão decretada
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A ex-companheira de Fábio Toshiro, o fisioterapeuta que morreu atropelado por um carro após a própria festa de casamento, entrou com uma ação na Justiça contra o motorista que causou o acidente, o influenciador Vítor Belarmino, e as cinco passageiras do veículo. A mulher pede o pagamento de indenizações para o filho adolescente que teve com a vítima.
Fábio morreu no dia 13 de julho após ser atingido pela BMW do influenciador, que estava em alta velocidade na Avenida Lúcio Costa, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A vítima tinha acabado de sair do hotel Cdesign e faria uma viagem de lua de mel.
Câmera de segurança mostra atropelamento de noivo após casamento no Recreio
Após as investigações, a Polícia Civil do RJ indiciou e a Justiça tornou réu o influenciador por homicídio doloso — quando há intenção de matar. Vítor Belarmino, porém, segue foragido.
As cinco mulheres que estavam no carro são jogadoras de futebol e também se tornaram rés por omissão de socorro: Amanda Camargo e Silva, Mirelly da Silva Campos, Julia Teixeira de Sousa, Débora Letícia da Silva Paz e Karolayne Melo Fernandes Ferreira. Elas respondem em liberdade.
Procurados pelo g1, os acusados não se manifestaram até a publicação desta reportagem.
Fisioterapeuta Fábio Toshiro morreu atropelado após a própria festa de casamento na Zona Oeste do Rio
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Ação
Conforme apurado pelo g1, o filho de Toshiro, de 15 anos, mora com a mãe nos Estados Unidos há cinco, mas tinha o costume de ver o pai durante as férias e dependia financeiramente de pensão alimentícia dele.
A família procurou o advogado Marcus Vinícius Rosa, de Santos, no litoral de São Paulo, para mover a ação na Justiça. O profissional contou ter protocolado a ação de indenização por danos morais, materiais e pensão alimentícia no dia 12 de novembro.
Segundo Rosa, o dano moral foi caracterizado pela repercussão do caso, já que as imagens do atropelamento foram divulgadas na internet, intensificando o sofrimento e a angústia dos familiares da vítima de forma permanente.
Além disso, o advogado levou em conta a expectativa de vida média de um homem brasileiro para solicitar que o foragido pague pensão alimentícia ao filho de Fábio por 31 anos. O tempo é a diferença entre a idade da vítima (42) e a expectativa de vida (73).
Advogado Marcus Vinicius Rosa representa a família materna do adolescente
Arquivo Pessoal
A indenização por dano material, por sua vez, é baseada no valor de pensão que não foi recebida pelo adolescente desde a morte de Fábio, em 13 de julho deste ano.
As jogadoras, rés no processo por omissão de socorro, também são alvos do pedido de indenização por danos morais. O advogado argumentou que elas não prestaram assistência a Fábio, contribuindo com a dor dele.
A responsabilidade moral das atletas, segundo o advogado, também diz respeito à atuação delas como jogadoras de futebol, que as coloca em uma posição de inspiração para jovens da sociedade.
Dobro da velocidade
BMW do influenciador Vitor Vieira Belarmino, que atropelou o fisioterapeuta Fábio Toshiro Kikuda no dia do casamento
Rafael Nascimento / g1
No inquérito, a 42ª DP (Recreio) afirma que o influencer estava a 109 km/h na hora do impacto, mas chegou a 160 km/h momentos antes do acidente. O limite de velocidade da via é de 70 km/h — e será reduzido.
Um vídeo incluído no inquérito mostra o instante seguinte ao choque. As imagens são fortes. Fábio é arremessado, e seu corpo gira várias vezes no ar. A BMW só para metros adiante. Segundos depois, a noiva surge no quadro, em aparente desespero.
O trabalho da Polícia Civil foi realizado com oitivas de 13 testemunhas, análise de mais de 20 vídeos apreendidos e confecção de 10 laudos periciais.
Peritos concluíram que, se Belarmino estivesse trafegando na velocidade permitida da via, 70 km/h, teria condições de frear o carro antes do impacto.
A perícia afirma ainda que uma moto que seguia metros à frente da BMW não tocou em Fábio, possibilidade levantada pela defesa do influenciador.
influenciador Vitor Vieira Belarmino é procurado pela policia
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O que disseram as passageiras
As passageiras disseram em depoimento que haviam saído da festa de aniversário de uma delas e decidiram ir à praia. Para chegar lá, aceitaram a carona do influenciador.
Todas afirmaram que, momentos antes do atropelamento, Vitor tentou cortar um outro veículo. O inquérito não traz nenhuma referência a esse fato — nas imagens de uma câmera de segurança, o carro segue em linha reta.
Duas das passageiras disseram que consideravam que o motorista estava em uma velocidade acima do normal.
O que já disse a defesa
Anteriormente, a defesa de Vitor Vieira Belarmino tinha declarado que o influenciador não estava alcoolizado e que estava dentro da velocidade permitida no momento da colisão — o que a perícia desmentiu.
Segundo o advogado Gabriel Habib, a defesa iria “provar no inquérito que foi um acidente e que Vitor não teve culpa na morte da vítima”.
Questionada por que Vitor não parou para prestar socorro, o advogado disse que “ele parou mais na frente, mas não voltou ao local do acidente porque ficou em choque, sem reação, e teve medo de linchamento, porque populares começaram a se aglomerar no local”.
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