Tecnologia na saúde: cirurgia inédita realizada no ES

A implantação de eletrodos em regiões específicas do cérebro para estimulação cerebral profunda é uma técnica usada, por exemplo, para tratar Parkinson, tremor essencial e dor crônica. No entanto, no início do mês, a tecnologia foi usada, de forma inédita no Espírito Santo, para tratamento de doença neuropsiquiátrica. O procedimento foi realizado pelo neurocirurgião Walter Fagundes, professor de Neurocirurgia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em um paciente com a síndrome de Tourette – transtorno neuropsiquiátrico que faz com que o indivíduo realize atos impulsivos e repetitivos. A agressividade apresentada pelo paciente, um adulto jovem, era tanta, que ele já chegou a arrancar uma grade da janela por causa do transtorno. Tratamentos com medicamentos e internações não surtiram efeito, sendo recomendada a cirurgia. “Nesse paciente aplicamos a técnica do DBS, estimulação cerebral profunda, na região do hipótalamo. Essa é uma região muito delicada, onde há centros que controlam nossa hidratação, nosso metabolismo de glicose, de controle corporal e o sono. É uma região muito importante e que têm conexões com o sistema que controla nossas emoções”.O neurocirurgião explica que a tecnologia tem diferentes configurações na frequência de estímulo, comprimento de ondas e voltagem. “De acordo com o que eu quero, se inibir ou estimular a região do cérebro, haverá parâmetros elétricos diferentes”.O eletrodo é inserido no cérebro, ligado em um marca-passo, sob a pele, no peito do paciente. “Pelo tablet, por meio de Bluetooth, o marca-passo é conectado, onde o médico define os parâmetros de estimulação, para melhor controle dos sintomas e sem efeitos colaterais”.“O marca-passo atualmente é recarregável, sendo necessário fazer recarga semanal. Ele dura, em média, 10 anos”.ObesidadeO DBS é uma tecnologia, segundo o neurocirurgião, que está sendo estudada, inclusive, para tratar obesidade mórbida usando os eletrodos cerebrais. “Alguns trabalhos mostram que, ao ser colocados em uma região do hipotálamo um pouco mais à frente, ao ser estimulados, os pacientes aumentam o metabolismo e diminuem o apetite, ou seja, eles perdem quilos”.Pesquisadores também, segundo Walter, já estudam os eletrodos para o tratamento de doença de Alzheimer.Bomba de insulinaAos 4 anos, a publicitária Lylian Vilas Boas, 40, foi diagnosticada com diabetes tipo I. Por muito tempo, ela usou o glicosímetro (aparelho portátil utilizado para medir os níveis de glicose). Em 2017, chegou a entrar em coma, quando sua glicose chegou a 18. Em 2019, passou a utilizar a bomba de insulina, com sensor de glicemia.

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Kadidja Fernandes/AT

“Hoje tenho uma qualidade de vida muito melhor. O aparelho reduziu muito tanto a hipoglicemia (glicose baixa) quanto a hiperglicemia (glicose alta). Posso dizer que hoje sou uma pessoa normal porque a bomba faz por mim o que parte do meu organismo parou de fazer”.Dispositivo para diagnóstico de doenças cardíacasAs doenças cardiovasculares são as que mais matam por ano no País. Estimativas apontam que, em média, a cada 90 segundos, uma pessoa morre por doença cardiovascular. São mais de 400 mil mortes anuais.Para prevenir desfechos fatais, pesquisadores têm desenvolvido tecnologias que podem revolucionar o diagnóstico de doenças cardíacas. Na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), um dispositivo criado detecta a onda do pulso cardíaco, a velocidade e os batimentos do paciente. A partir da medição da pressão em dois pontos distintos do paciente, é possível verificar o atraso no batimento, evidenciando a presença de uma rigidez arterial, sendo essa regidez uma indicação do risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou de infartos.Chamado POFWave, o sensor do equipamento tem sua parte mecânica produzida em impressora 3D no Laboratório de Telecomunicações da Ufes (LabTel), em parceria com o Centro de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento (CPID).“A nossa proposta é que esse dispositivo seja distribuído nas unidades de saúde. Ainda estamos em fase de protótipo, mas queremos fazer mais melhorias em novas fases de testes. É um dispositivo simples, que poderia ser aplicado em casa, mas primeiro queremos disponibilizar na unidade de saúde”, explicou o aluno do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da Ufes e responsável pelo projeto, Weliton Marques.Dispositivos de monitoramento para hipertensãoEntre as inovações destacam-se dispositivos que analisam ondas de pulso para estimar a pressão arterial. Esses dispositivos, como relógios inteligentes, anéis ou mesmo smartphones, utilizam sensores avançados para captar sinais biológicos, explica a cardiologista Daniella Motta.Além disso, ferramentas que integram inteligência artificial têm sido desenvolvidas para interpretar os dados obtidos, ajustando os tratamentos de forma personalizada. Outra inovação é o método que utiliza a pressão do dedo sobre a tela de um smartphone para estimar valores da pressão arterial. Só que Daniella alerta que o recomendando, ainda, é a aferição tradicional da pressão arterial,Distúrbios miccionais: Neuroestimulador implantável O neuroestimulador é um pequeno aparelho inserido sob a pele, geralmente acima das nádegas. Esse dispositivo envia leves impulsos elétricos aos nervos das costas que controlam o intestino, reto e bexiga. Pode ser usado para tratar bexiga hiperativa, retenção urinária, incontinência fecal e constipação.O neuroestimulador envia impulsos elétricos por meio do eletrodo para um dos nervos sacrais.O eletrodo é ligado a um pequeno neuroestimulador externo, que pode ser usado preso a um cinto. O paciente usa um programador portátil, que permite o ajuste da força de estimulação e liga e desliga o sistema.Doenças neurológicas e psiquiátricasA estimulação cerebral profunda (Deep Brain Stimulation -DBS), ou neuromodulação cerebral, é um procedimento que envolve a implantação de eletrodos em regiões específicas do cérebro. Esses eletrodos geram pulsos elétricos de baixa intensidade, modulando a atividade neuronal anormal. Um gerador de impulsos, semelhante a um marca-passo cardíaco, controla a estimulação, proporcionando alívio dos sintomas de diversas condições neurológicas, como Parkinson, tremor essencial, distonia, epilepsia, dor crônica e doença neuropsiquiátrica. Por meio de um tablet , o médico consegue controlar o marca-passo (via Bluetooth), que fica no peito do paciente.Fonte: Especialistas consultados e Medtronic.

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