Notas Estratégicas MB – A necessidade urgente de se voltar para o mar

O 3º submarino do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB), o S-42 Tonelero, navegando Foto ICN

Fiel Observador

A Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC) da ONU aprovou em março de 2025 a expansão da plataforma continental do Brasil. Com esta decisão, o Brasil passa a ter direitos de exploração e soberania sobre uma área marítima de 360 mil km².

A plataforma continental é a parte do fundo do oceano que se estende desde a linha da costa até a profundidade de cerca de 200 m. É uma faixa de terra submersa que se inclina suavemente, terminando no talude continental.

A aprovação da expansão da plataforma continental do Brasil reforça a presença soberana do Brasil no Atlântico Sul, permitindo ao país explorar os recursos e riquezas do subsolo marinho.

Ver a matéria: Nova fronteira: Marinha conduz a expansão dos limites do Brasil no mar

Necessidade de proteger

Dentre as três Forças Armadas, a Marinha do Brasil é a que enfrenta as maiores dificuldades e desafios dada a grandeza e complexidade dos seus meios e da área de responsabilidade territorial.

Embora esteja constantemente se modernizando e incorporando navios de segunda mão ou fazendo excelentes compras de oportunidade, precisa receber e ampliar a quantidade de novas escoltas, os principais meios de combate de superfície de uma Esquadra de Guerra, que garantem a proteção do mar territorial.

Em produção, a modesta e insuficiente quantidade de quatro unidades de Fragatas Classe Tamandaré, com a primeira prevista para ser entregue ao setor operativo até dezembro deste ano.

É urgente adicionar ou contratar dentro de um ano pelo menos mais duas ou quatro Fragatas Classe Tamandaré, e posteriormente seguir com um projeto de aquisição de outra Classe de navios-escolta com deslocamento de seis mil toneladas e maior poder de fogo.

As unidades adicionais da Tamandaré poderiam vir com algumas modificações e avanços tecnológicos, principalmente a integração de armamento inteligente, novos sensores passivos e ativos e na área de comando e controle.

Cerimônia de entrega da Fragata Tamandaré , no Estaleiro Brasil Sul, em Itajaí. Santa Catarina. Agosto 2024 . Foto Aguas Azuis

Relatório de Gestão da Martinha do Brasil

No Relatório de Gestão da Marinha do Brasil divulgado, em 08 Abril 2025, foram apresentados assim os principais programas estratégicos da Força Naval:

“Ao longo de 2024, a Marinha avançou significativamente em seus programas estratégicos, como o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB), o Programa Nuclear da Marinha (PNM) e o Programa de Obtenção de Navios-Patrulha (PRONAPA). Entre os destaques, o Relatório aponta a entrega do submarino convencional diesel-elétrico tipo Scorpene “S-41 Humaitá” e o lançamento do “S-42 Tonelero” e da primeira fragata das quatro previstas no Programa Fragatas Classe “Tamandaré” (PFCT).”

O Comandante da MB Almirante Olsen em tom diplomático menciona os desafios:

“A despeito das tarefas executadas, os desafios impostos pelo cenário fiscal durante o ano de 2024 exigiram esforços diligentes e contínuos para a adequação das despesas à menor dotação  orçamentária discricionária dos últimos dez anos”, afirma o Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen.”

Ver matéria : Relatório de gestão da Marinha do Brasil aponta avanços e desafios para a soberania no mar

Quem deve pagar essa conta?

No momento que as grandes potências inauguram uma nova era de colonialismo querendo controlar rotas de comércio marítimo e assegurar o fornecimento de terras raras e recursos naturais de terceiros países em troca de proteção, e até mesmo ameaçando diretamente uma anexação territorial forçada de países aliados, cabe ao Brasil investir em meios de combate capazes de proteger nossas riquezas, assegurar a soberania territorial e a proteção da Zona Econômica Exclusiva (ZEE)

Cabe a Petrobras e a chamada indústria da “economia do mar” pagar a conta dessa proteção. E dinheiro não falta para isso. Não precisamos mais de outro Fundo Naval ou qualquer tipo de fundos criados para administrar doações e royalties. Precisamos que a Marinha especifique, selecione e licite, e que aqueles que mais se beneficiam paguem essa conta com seus próprios recursos, assim a Marinha poderia adquirir uma série de novas tecnologias necessárias ao cumprimento da sua missão sem ficar totalmente dependente do orçamento da União.

Outra necessidade, que leva a uma discussão sensível e cheia de paixões, mas que precisa ser feita pelo Almirantado e uma decisão a ser tomada pelo Comandante da Marinha é de um ajuste de curso sobre um projeto que impacta o presente e o futuro da Marinha: precisa-se reavaliar a prioridade do primeiro submarino brasileiro convencionalmente armado com propulsão nuclear. (Nota DefesaNet- Sabendo ser um tema sensível a própria MB classificou assim o futuro Submarino Álvaro Alberto)

Consumindo mais de um terço do orçamento da Marinha, a necessidade operacional e a capacidade dissuasória que um único submarino vai trazer são contestadas, principalmente quando temos um território com uma faixa litorânea gigantesca e a possibilidade de se projetar poder aéreo e naval com mísseis antinavio a partir de bases em terra ou do Arquipélago de Fernando de Noronha.

O submarino nuclear não deixa de ser importante, mas a Marinha precisa fazer escolhas para manter sua sobrevivência e garantir uma capacidade operacional plena já que o cobertor ou melhor, o lençol orçamentário é curto.

Uma Marinha forte como símbolo maior do Poder Nacional

Desde seus primórdios, a Marinha do Brasil tem uma visão além-mar, ela está historicamente ligada e atenta as mudanças geopolíticas e aos novos cenários operacionais. Ela é responsável por projetar o poder nacional além das nossas águas territoriais e nos locais mais distantes do Globo terrestre. Quando um navio de guerra brasileiro atraca em um porto estrangeiro, ele é uma embaixada flutuante que demonstra ao seu anfitrião a grandeza e o poder da nação brasileira e a pujança da sua economia.

Precisamos de uma Marinha moderna e forte para assegurar os interesses nacionais e o futuro das novas gerações de brasileiros, afinal, o Brasil é uma nação continental e marítima, nascida e voltada para o mar, e o Atlântico Sul é o nosso maior quintal, patrimônio e futuro, o MARE BRAZILIS

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